13 março, 2018

HIIT e câncer – implicações de sua prática durante o tratamento.


O diagnóstico do câncer (CA) é, quase sempre, acompanhado de declínio fisiológico e psicossocial devido à manifestação da doença e aos efeitos adversos do tratamento. O exercício físico (EF) é, comprovadamente, uma estratégia viável de atenuar ou interromper estes processos.  Além disso, o EF também é capaz de reduzir o risco de recorrência e mortalidade relacionadas a determinados tipos de CA.  O treinamento contínuo de intensidade moderada (MICT) é o EF mais estudado e possui eficácia e segurança comprovadas nas promoções dos benefícios acima. No entanto, pesquisas recentes apontam que o EF realizado em intensidades mais elevadas pode trazer vantagens adicionais a pessoas com CA.

Em revisão recém-publicada, foram analisados nove artigos (n=531) que compararam protocolos de HIIT (treinamento intervalado de alta intensidade; que compreende em séries de curta duração de EF em alta intensidade intercaladas por períodos de repouso ou recuperação ativa) com os de MICT ou controle em desfechos relacionados à segurança e melhora das capacidades físicas em pacientes com CA.  Os estudos ​​mostraram que o HIIT, quando feito de maneira supervisionada, apresenta baixo risco de eventos adversos e promove melhorias significativas no VO2 máx., força, massa e gordura corporal em comparação ao MICT ou controle. Adicionalmente constatou-se que o HIIT de modo misto, que inclui exercícios aeróbicos e de força (musculação), foi o mais eficiente quando confrontado ao HIIT aeróbico.

Cabeçalho do revisão sistemática citada acima (Toohey, K. et al. 2018).
Em outro estudo, a fadiga, qualidade de vida e carga de sintomas relacionados ao tratamento foram analisadas em 240 mulheres durante o tratamento de CA da mama (divididas em três grupos: HIIT misto, HIIT aeróbico e controle) em um protocolo com 16 semanas de duração. Ambos os treinos obtiveram resultados superiores significativos em todos os quesitos quando comparados ao controle. Novamente, o HIIT misto foi o mais efetivo em promover tais benefícios (ver painel abaixo). Nestes dois estudos, seus autores concluem que o HIIT apresenta-se como uma possibilidade de intervenção em pacientes com CA e que a brevidade de sua duração pode ser relevante para evitar barreiras comuns relacionadas ao tempo enfrentadas antes, durante e após o tratamento do CA pelo paciente.

Painel com os gráficos indicando as alterações após as 16 semanas de intervenção dos três grupos (HIIT misto, HIIT aeróbico e Controle) nos índices de fadiga, qualidade de vida e dos sintomas. (Mijwel, S. et al. 2017). Clique na imagem para ampliá-la.
Cabeçalho do artigo citado acima (Mijwel, S. et al. 2017).
Fica claro, diante destes achados iniciais e exploratórios, que o HIIT (aeróbico ou misto) parece ser seguro e eficiente, tanto para a melhoria de certos desfechos fisiológicos, quanto para clínicos no manejo do CA. Ainda faltam mais estudos que esclareçam a dose adequada e a sua progressão, taxas de eventos adversos e a estratificação de risco, efeitos em outros tipos de CA e em seguimentos mais longos; para se avaliar o possível efeito anticâncer desta estratégia, é aventada a possibilidade de o HIIT atenuar processos inflamatórios envolvidos na iniciação e progressão de tumores. Entretanto, o MICT não deve ser descartado, uma vez que já possui segurança e eficácia comprovada.

Cabeçalho do artigo que discute os possíveis afeitos anticâncer do HIIT (Papadopoulos, E. 2018)
Quer saber mais?
  • ·     Papadopoulos, Efthymios, and Daniel Santa Mina. "Can we HIIT cancer if we attack inflammation?." Cancer Causes & Control (2018): 1-5.
  • ·     Mijwel, Sara, et al. "Adding high-intensity interval training to conventional training modalities: optimizing health-related outcomes during chemotherapy for breast cancer: the OptiTrain randomized controlled trial." Breast cancer research and treatment (2017): 1-15.
  •       Toohey, Kellie, et al. "High-intensity exercise interventions in cancer survivors: a systematic review exploring the impact on health outcomes." Journal of cancer research and clinical oncology 144.1 (2018): 1-12.
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz

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