O diagnóstico do câncer (CA) é, quase
sempre, acompanhado de declínio fisiológico e psicossocial devido à
manifestação da doença e aos efeitos adversos do tratamento. O exercício físico
(EF) é, comprovadamente, uma estratégia viável de atenuar ou interromper estes
processos. Além disso, o EF também é
capaz de reduzir o risco de recorrência e mortalidade relacionadas a
determinados tipos de CA. O treinamento
contínuo de intensidade moderada (MICT) é o EF mais estudado e possui eficácia
e segurança comprovadas nas promoções dos benefícios acima. No entanto,
pesquisas recentes apontam que o EF realizado em intensidades mais elevadas
pode trazer vantagens adicionais a pessoas com CA.
Em revisão recém-publicada, foram analisados
nove artigos (n=531) que compararam protocolos de HIIT (treinamento intervalado
de alta intensidade; que compreende em séries de curta duração de EF em alta
intensidade intercaladas por períodos de repouso ou recuperação ativa) com os
de MICT ou controle em desfechos relacionados à segurança e melhora das capacidades
físicas em pacientes com CA. Os estudos mostraram
que o HIIT, quando feito de maneira supervisionada, apresenta baixo risco de
eventos adversos e promove melhorias significativas no VO2 máx.,
força, massa e gordura corporal em comparação ao MICT ou controle. Adicionalmente
constatou-se que o HIIT de modo misto, que inclui exercícios aeróbicos e de força
(musculação), foi o mais eficiente quando confrontado ao HIIT aeróbico.
Cabeçalho do revisão sistemática citada acima (Toohey, K. et al. 2018). |
Em
outro estudo, a fadiga, qualidade de vida e carga de sintomas relacionados ao
tratamento foram analisadas em 240 mulheres durante o tratamento de CA da mama (divididas
em três grupos: HIIT misto, HIIT aeróbico e controle) em um protocolo com 16
semanas de duração. Ambos os treinos obtiveram resultados superiores significativos
em todos os quesitos quando comparados ao controle. Novamente, o HIIT misto foi
o mais efetivo em promover tais benefícios (ver painel abaixo). Nestes dois estudos, seus autores
concluem que o HIIT apresenta-se como uma possibilidade de intervenção em
pacientes com CA e que a brevidade de sua duração pode ser relevante para
evitar barreiras comuns relacionadas ao tempo enfrentadas antes, durante e após
o tratamento do CA pelo paciente.
Cabeçalho do artigo citado acima (Mijwel, S. et al. 2017). |
Fica
claro, diante destes achados iniciais e exploratórios, que o HIIT (aeróbico ou
misto) parece ser seguro e eficiente, tanto para a melhoria de certos desfechos
fisiológicos, quanto para clínicos no manejo do CA. Ainda faltam mais estudos
que esclareçam a dose adequada e a sua progressão, taxas de eventos adversos e
a estratificação de risco, efeitos em outros tipos de CA e em seguimentos mais
longos; para se avaliar o possível efeito anticâncer desta estratégia, é
aventada a possibilidade de o HIIT atenuar processos inflamatórios envolvidos
na iniciação e progressão de tumores. Entretanto, o MICT não deve ser
descartado, uma vez que já possui segurança e eficácia comprovada.
Cabeçalho do artigo que discute os possíveis afeitos anticâncer do HIIT (Papadopoulos, E. 2018) |
Quer saber mais?
- · Papadopoulos, Efthymios, and Daniel Santa Mina. "Can we HIIT cancer if we attack inflammation?." Cancer Causes & Control (2018): 1-5.
- · Mijwel, Sara, et al. "Adding high-intensity interval training to conventional training modalities: optimizing health-related outcomes during chemotherapy for breast cancer: the OptiTrain randomized controlled trial." Breast cancer research and treatment (2017): 1-15.
- Toohey, Kellie, et al. "High-intensity exercise interventions in cancer survivors: a systematic review exploring the impact on health outcomes." Journal of cancer research and clinical oncology 144.1 (2018): 1-12.
Rodrigo Ferraz
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