07 outubro, 2015

Como o sistema imunológico do paciente com câncer responde ao exercício.


Uma das maiores preocupações de quem pratica ou prescreve exercícios durante o tratamento anticâncer é a supressão do Sistema Imunológico (SI), aumentando assim as chances de infecções e de crescimento tumoral. Para entender melhor a resposta imunológica dos pacientes ao esforço, é necessário entender seu funcionamento.

O SI nos protege de agentes externos (ex. bactérias e vírus) e internos (ex. células tumorais). É composto por duas divisões funcionais que atuam de forma coordenada. O SI inato consiste de componentes celulares (ex. barreiras físicas) e fornece uma primeira linha de defesa contra patógenos, enquanto a resposta imune adquirida é ativada. O SI adquirido produz uma reação específica de memória imunológica para cada patógeno. Muitos tumores poderiam ser erradicados antes da sua detecção clínica se eles pudessem ser reconhecidos e destruídos pelo SI inato. Segundo a teoria da vigilância imunológica, os cânceres surgem apenas se as células defeituosas são capazes de escapar desta barreira.


Na tentativa de elucidar o comportamento do SI diante ao exercício, foi formulada a teoria do “J Invertido” (ver gráfico abaixo). Ela sugere que o reforço no SI e consequente redução à susceptibilidade ao câncer ocorrem com a prática de exercícios moderados. Em contraste, o exercício exaustivo pode levar à supressão do SI e susceptibilidade elevada ao câncer e a infecções. Agindo de forma paralela, muitos fármacos administrados durante a quimioterapia também podem induzir esta supressão. Com base nesse raciocínio, foram realizados vários estudos avaliando os efeitos do treinamento sobre funções do SI em pacientes em tratamento anticâncer.

Gráfico da Teoria do "J Invertido". 

Em uma revisão publicada em 2002, a maioria dos estudos analisados relataram, como resultado da prática regular de exercícios, melhorias significativas em vários componentes do SI relacionados ao combate ao câncer. Em outro estudo de 2005, 22 pacientes em tratamento quimioterápico de câncer de mama que realizaram seis meses de exercícios aeróbicos moderados, 3X semana, de forma supervisionada foram comparadas a 21 pacientes que não realizaram exercícios. Além dos ganhos no consumo de oxigênio e de força, o exercício promoveu melhora na função imunológica, aumentando a ativação dos linfócitos nas pacientes que treinaram. (ver tabela abaixo dos valores pré e pós dos linfócitos)

Tabela dos valores pré e pós dos linfócitos das pacientes
(clique na tabela para visualiza-la melhor)

Diante destas evidências, podemos concluir que a prática regular de exercícios de forma moderada não compromete as funções do SI em pacientes em tratamento. Entretanto, adicionalmente o exercício foi capaz de melhorar parâmetros do SI relacionados as defesas anticâncer e de infecções. Este resultado por si só já é um indicativo de segurança na sua realização.

Cabeçalho do artigo de revisão publicado em 2002.


Até a próxima...
Rodrigo Ferraz

Para saber mais:
Hutnick, Natalie A., et al. "Exercise and lymphocyte activation following chemotherapy for breast cancer." Medicine and science in sports and exercise 37.11 (2005): 1827.
Fairey, Adrian S., et al. "Physical exercise and immune system function in cancer survivors." Cancer 94.2 (2002): 539-551.
Woods, Jeffrey A., et al. "Exercise and cellular innate immune function."Medicine and Science in Sports and Exercise 31.1 (1999): 57-66.

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