Uma das maiores preocupações de
quem pratica ou prescreve exercícios durante o tratamento anticâncer é a supressão
do Sistema Imunológico (SI), aumentando assim as chances de infecções e de
crescimento tumoral. Para entender melhor a resposta imunológica dos pacientes
ao esforço, é necessário entender seu funcionamento.
O SI nos protege de agentes
externos (ex. bactérias e vírus) e internos (ex. células tumorais). É composto
por duas divisões funcionais que atuam de forma coordenada. O SI inato consiste
de componentes celulares (ex. barreiras físicas) e fornece uma primeira linha
de defesa contra patógenos, enquanto a resposta imune adquirida é ativada. O SI
adquirido produz uma reação específica de memória imunológica para cada
patógeno. Muitos tumores poderiam ser erradicados antes da sua detecção clínica
se eles pudessem ser reconhecidos e destruídos pelo SI inato. Segundo a teoria
da vigilância imunológica, os cânceres surgem apenas se as células defeituosas
são capazes de escapar desta barreira.
Na tentativa de elucidar o
comportamento do SI diante ao exercício, foi formulada a teoria do “J
Invertido” (ver gráfico abaixo). Ela sugere que o reforço no SI e consequente
redução à susceptibilidade ao câncer ocorrem com a prática de exercícios
moderados. Em contraste, o exercício exaustivo pode levar à supressão do SI e
susceptibilidade elevada ao câncer e a infecções. Agindo de forma paralela, muitos
fármacos administrados durante a quimioterapia também podem induzir esta supressão.
Com base nesse raciocínio, foram realizados vários estudos avaliando os efeitos
do treinamento sobre funções do SI em pacientes em tratamento anticâncer.
Gráfico da Teoria do "J Invertido". |
Em uma revisão publicada em 2002,
a maioria dos estudos analisados relataram, como resultado da prática regular
de exercícios, melhorias significativas em vários componentes do SI relacionados
ao combate ao câncer. Em outro estudo de 2005, 22 pacientes em tratamento
quimioterápico de câncer de mama que realizaram seis meses de exercícios
aeróbicos moderados, 3X semana, de forma supervisionada foram comparadas a 21
pacientes que não realizaram exercícios. Além dos ganhos no consumo de oxigênio
e de força, o exercício promoveu melhora na função imunológica, aumentando a
ativação dos linfócitos nas pacientes que treinaram. (ver tabela abaixo dos
valores pré e pós dos linfócitos)
Tabela dos valores pré e pós dos linfócitos das pacientes (clique na tabela para visualiza-la melhor) |
Diante
destas evidências, podemos concluir que a prática regular de exercícios de
forma moderada não compromete as funções do SI em pacientes em tratamento. Entretanto,
adicionalmente o exercício foi capaz de melhorar parâmetros do SI relacionados as
defesas anticâncer e de infecções. Este resultado por si só já é um indicativo de
segurança na sua realização.
Cabeçalho do artigo de revisão publicado em 2002. |
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
Para saber mais:
Hutnick,
Natalie A., et al. "Exercise and lymphocyte activation following
chemotherapy for breast cancer." Medicine
and science in sports and exercise 37.11
(2005): 1827.
Fairey,
Adrian S., et al. "Physical exercise and immune system function in cancer
survivors." Cancer 94.2 (2002): 539-551.
Woods,
Jeffrey A., et al. "Exercise and cellular innate immune function."Medicine
and Science in Sports and Exercise 31.1
(1999): 57-66.
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