O treinamento de força (TF) com oclusão vascular, também conhecido como KAATSU, é um método que utiliza um manguito (torniquete) fixado na região proximal dos músculos dos braços ou pernas e que, ao ser inflado, restringe parcialmente o fluxo sanguíneo na região durante a execução de TF com cargas de baixa intensidade (entre 20-50% de 1-RM). Efetivo em induzir aumentos tanto da força quanto da massa muscular semelhantes àqueles induzidos pelo TF de alta intensidade (70-85% de 1-RM), sem o uso da oclusão vascular.
Estes ganhos são causados pela alteração do ambiente metabólico muscular,
promovida pela restrição do fluxo sanguíneo, que gera um acúmulo de metabólitos local,
desencadeando uma série de eventos que parecem agir de forma simultânea na
indução de um meio favorável para a hipertrofia
muscular e consequente ganho de
força. (ver imagem dos mecanismos envolvidos abaixo).
Ilustração com os possíveis mecanismos e dinâmica metabólica do TF com oclusão (Loenneke et al. 2010) |
Para
entendermos a sua possível aplicação nas patologias crônicas, inicialmente é
preciso olhar para o fenômeno de ganho de massa muscular, que se dá em razão do
aumento do tamanho da fibra muscular devido ao aumento do número de miofibrilas
(acumulo de material contrátil). Podemos considerar três diferentes estímulos
que poderiam gerar esta resposta: mecânico, hormonal e metabólico. Este último
está relacionado com o custo metabólico da tarefa, uma vez que a alteração do ambiente
metabólico local parece favorecer a síntese proteica, isto significa que,
quanto maior o custo, maior será o estímulo anabólico (observado no TF com
oclusão).
Neste
sentido, o método tem sido indicado a populações com patologias ou lesões que
limitam a utilização de cargas elevadas, mas que clinicamente podem se beneficiar
com a melhora da força e hipertrofia. Entretanto, o alto custo metabólico deste
treinamento pode afetar a sua aplicação em patologias que interferem
diretamente com o estado metabólico do paciente (ex. pacientes em tratamento
anticâncer ou em cardiopatias). Nestes casos, talvez outro método de TF mais
tolerável, que afete menos o ambiente metabólico, pode ser o mais indicado.
Isto
pode explicar o motivo das publicações científicas sobre o assunto estarem mais
voltadas para as seguintes situações: idosos (Takarada,
Takazawa, et al., 2000; Karabulut et al., 2010; Yasuda et al., 2013), reabilitação de lesões musculares e articulares (Kubota et al., 2008) e patologias osteo musculares (Gualano et al., 2010; Mattar et al., 2014; Silva et al., 2015).
Na
segunda parte deste texto, apresentarei alguns resultados dos estudos deste
método quando aplicado em patologias crônicas.
Até
a próxima...
Rodrigo
Ferraz
Para saber mais:
Sobre
os mecanismos:
Loenneke, J. P., G. J. Wilson, and J. M. Wilson.
"A mechanistic approach to blood flow occlusion." Int J Sports Med 31.1 (2010): 1-4.
Pope, Zachary K., Jeffrey M. Willardson, and Brad J.
Schoenfeld. "Exercise and blood flow restriction." The Journal of Strength &
Conditioning Research27.10 (2013): 2914-2926.
Sobre os estudos:
Takarada, Yudai, et al. "Effects of resistance exercise combined
with moderate vascular occlusion on muscular function in humans." Journal of Applied Physiology 88.6 (2000): 2097-2106.
Karabulut, Murat, et al. "Inflammation marker,
damage marker and anabolic hormone responses to resistance training with
vascular restriction in older males." Clinical
physiology and functional imaging 33.5
(2013): 393-399.
Yauda, T., et al. "Muscle size and arterial
stiffness after blood flow‐restricted low‐intensity resistance training in older
adults." Scandinavian
journal of medicine & science in sports 24.5 (2014): 799-806.
Kubota, Atsushi, et al. "Prevention of disuse
muscular weakness by restriction of blood flow." Medicine and science in sports and
exercise 40.3 (2008):
529-534.
Gualano, Bruno, et al. "Resistance training with
vascular occlusion in inclusion body myositis: a case study." Med Sci Sports Exerc 42.2 (2010): 250-254.
Mattar, Melina Andrade, et al. "Safety and
possible effects of low-intensity resistance training associated with partial
blood flow restriction in polymyositis and dermatomyositis." Arthritis research &
therapy 16.5
(2014): 473.
Silva, Júlio, et al. "Chronic Effect of Strength Training with
Blood Flow Restriction on Muscular Strength among Women with
Osteoporosis." (2015).
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