Apresento os resultados de dois
estudos que avaliaram os efeitos do treinamento de força (TF) com oclusão
vascular em patologias osteomusculares. Ambos realizados pelos pesquisadores do
LACRE (Laboratório de Avaliação e Condiocionamento em Reumatologia do Hospital
das Clínicas, Faculdade de Medicina USP).
Em estudo publicado em 2014, 13
pacientes com polimiosite e dermatomiosite realizaram um protocolo de TF (20%1RM)
com oclusão para os membros inferiores (leg
press e cadeira extensora) durante 12 semanas. Estas patologias fazem parte
de uma condição autoimune chamada miosite inflamatória idiopática, caracterizada
pelo enfraquecimento e atrofia muscular, fadiga, mialgia e perda da função dos
musculos das pernas, levando a condições limitantes e perda de qualidade de
vida. Pacientes com estas patologias são incapazes de realizar um TF de alta
intensidade (70-85% 1-RM), porém podem se beneficiar clinicamente com o aumento
de força e hipertrofia dos membros inferiores.
Cabeçalho do artigo |
Após o período de intervenção, os
valores de força máxima e volume muscular das pernas aumentaram
significantemente, assim como a funcionalidade, medida em dois testes
(Timed-stand e Timed Up-and-Go). Estes resultados refletiram em melhora de
qualidade de vida destes pacientes, uma vez que houve aumento significativo nos
escores de todos os domínios do questionário de qualidade de vida (SF-36) pós
treinamento (ver gráficos de resultados abaixo).
Resultado de hipertrofia pré e pós intervenção. |
No outro estudo, realizado por mim e
em processo de publicação, durante 12 semanas 48 pacientes com osteortrite (OA)
de joelho, divididas em três grupos: TF (20%1RM) com e sem oclusão e TF alta (75%1RM)
sem oclusão, realizaram um protocolo de fortalecimento para pernas (leg press e cad. extensora). A OA de
joelho é uma doença caracterizada pela perda progressiva e irreversível da
cartilagem. Pacientes com OA apresentam dor, rigidez, instabilidade e inchaço no
joelho com consequente diminuição da atividade muscular e atrofia, levando-os a
uma piora na execução das atividades cotidianas e redução na qualidade de vida.
Mais uma vez, o fortalecimento da musculatura promove melhoras clínicas no
quadro destes pacientes, porém cargas acima de 60%1RM podem agravar a dor.
Os resultados indicam que o aumento
de força e hipertrofia nas pernas e melhora de funcionalidade foram significativos
e similares nos grupos TF oclusão e TF alta. A dor, avaliada em questionário
específico (WOMAC), reduziu de forma significativa apenas no grupo oclusão, e
neste sentido, cabe mencionar que, 25% dos pacientes do grupo TF alta foram
afastados ao longo do protocolo por agravamento das dores no joelho.
Estes estudos nos mostram que o
método, quando aplicado
em um ambiente controlado e por pessoal experiente, se apresenta como
uma estratégia promissora de intervenção não farmacológica para determinadas
patologias crônicas. Infelizmente, até o presente momento, nada foi publicado
sobre este método em pacientes com câncer. Talvez porque não seja aplicável a
esta população.
Até
a próxima...
Rodrigo
Ferraz
Para saber mais:
Mattar, Melina Andrade, et al. "Safety and possible effects of
low-intensity resistance training associated with partial blood flow
restriction in polymyositis and dermatomyositis." Arthritis research & therapy 16.5 (2014): 473.
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