Outro efeito indesejado causado pelo tratamento anticâncer é a ocorrência e/ou agravamento de distúrbios no sono. Tendo impacto negativo na qualidade de vida, esta situação acomete aproximadamente metade dos pacientes em tratamento, podendo chegar a quase 70% em pacientes com quadros mais graves da doença. Dentre os distúrbios relatados, a apneia e a insônia são os mais prevalentes e podem ser agravados com o prolongamento no tratamento (ver gráfico abaixo de ocorrência destes distúrbios em pacientes com câncer)
Frequência da ocorrência de insônia em uma população de 234 pacientes com câncer (retirado do artigo de Davidson et al. 2002). |
Uma
das possíveis explicações para este fenômeno é uma provável alteração do ciclo
circadiano. Este ciclo representa o período de 24 horas no qual se completam as
atividades biológicas do corpo humano. Dentre as funções reguladas por ele,
podemos citar os ajustes do apetite, do sistema imunológico e do sono. Em
pacientes com câncer, evidências apontam para a alteração de várias destas
funções, incluindo mudanças no ritmo endócrino (cortisol, melatonina e da
secreção de prolactina), nos processos metabólicos (temperatura corporal) e no
sistema imunológico (concentrações de leucócitos e neutrófilos circulantes).
Em estudo publicado em 2008, pesquisadores da Universidade de Duke, Carolina do Norte (E.U.A.), realizaram um protocolo de caminhada em 20 mulheres com câncer de mama recebendo tratamento hormonal. Após as 12 semanas de intervenção, quando comparadas com o grupo controle (sedentário), os escores do questionário PSQI, específico para avaliar qualidade do sono, reduziram de forma significativa, indicando uma atenuação nos sintomas causados pelos distúrbios do sono. Os autores relacionam este achado ao aumento significativo dos níveis de serotonina, proteína responsável por controlar a liberação de diversos hormônios e regular o ciclo circadiano, evidenciado apenas no grupo treinado.
Em estudo publicado em 2008, pesquisadores da Universidade de Duke, Carolina do Norte (E.U.A.), realizaram um protocolo de caminhada em 20 mulheres com câncer de mama recebendo tratamento hormonal. Após as 12 semanas de intervenção, quando comparadas com o grupo controle (sedentário), os escores do questionário PSQI, específico para avaliar qualidade do sono, reduziram de forma significativa, indicando uma atenuação nos sintomas causados pelos distúrbios do sono. Os autores relacionam este achado ao aumento significativo dos níveis de serotonina, proteína responsável por controlar a liberação de diversos hormônios e regular o ciclo circadiano, evidenciado apenas no grupo treinado.
Tabela com os valores dos parâmetros de atividade física e qualidade do sono pré e pós intervenção nos grupos (clique na tabela para visualizá-la melhor). |
Vale ressaltar que estes artigos relacionam
variáveis biológicas com a qualidade do sono, porém, neste caso, fatores psicológicos
como a ansiedade e depressão também são preponderantes. Olhar apenas para
hormônios e citocinas pode não ser suficiente para a melhora do quadro. Contudo, a realização de
exercício apresenta-se como uma ferramenta promissora na redução dos distúrbios
do sono causados pelo tratamento.
Até a próxima...
MSc
Rodrigo Ferraz
Para saber mais
Davidson, Judith R., et al. "Sleep
disturbance in cancer patients." Social science & medicine 54.9
(2002): 1309-1321.
Payne, Judith K., et al. "Effect of
exercise on biomarkers, fatigue, sleep disturbances, and depressive symptoms in
older women with breast cancer receiving hormonal therapy." Oncology
nursing forum. Vol.
35. No. 4. 2008.
Sprod, Lisa K., et al. "Exercise, sleep
quality, and mediators of sleep in breast and prostate cancer patients
receiving radiation therapy." Community oncology 7.10
(2010): 463.
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