14 agosto, 2015

Câncer e microbiota intestinal: qual a relação?



Artigo de revisão publicado em janeiro de 2015 pela renomada revista SCIENCE TRANSLATIONAL MEDICINE salienta a importância da microbiota intestinal no tratamento do câncer.
Cabeçalho original do artigo

 A microbiota intestinal é composta de uma grande diversidade de bactérias que convivem nesse órgão em harmonia com o hospedeiro. Temos trilhões de bactérias no interior do nosso sistema digestivo, as quais tem a função de auxiliar a digestão de carboidratos complexos (fibras) produzindo, a partir deles, compostos com ação anticâncer (ex: butirato). Outra função desses microrganismos é modular o nosso sistema imune para que ele seja tolerante a elas, ao mesmo tempo, mantendo um estado de vigilância imunológica, além de manter a chamada “função barreira”, ou seja, a integridade do tecido que bloqueia a passagem das bactérias ao interior do mesmo.
Imagem microscópica de um tumor de cólon com três espécies diferentes de bactérias (imagem retirada do artigo Microbial Mystery, Dweerdt S. Nature, 2015)

A hipótese que os autores desse artigo propõem é de que fatores ambientais, genéticos, etários e desafios impostos por doenças podem causar um desequilíbrio nessa comunidade, (disbiose) levando a uma resposta imune alterada, que pode resultar numa inflamação, devido à passagem de bactérias pela barreira intestinal, assim como numa maior toxicidade do epitélio, resultando em alterações metabólicas cujo resultado final pode ser alteração da capacidade de estimular o sistema imune contra células neoplásicas, influenciando no desfecho da doença. Se houver uma disbiose, o desfecho da doença poderia ser piorado, ao passo que, no caso de uma eubiose (biota equilibrada), o desfecho da doença poderia ser melhorado.

Ilustração da via protetora da mucosa intestinal e a carcinogênese (retirada do artigo Cancer and the Microbiota, Garret S. Science. 2015). clique na imagem para visualiza-la melhor.
Os mecanismos por trás dessa hipótese são vários: desde a influência na produção de citocinas pró-inflamatórias até a potencialização da ação de determinados agentes de tratamento (quimioterápicos, transplante de célula tronco, etc). Além disso, uma biota equilibrada poderia influenciar na redução da oncogênese e da progressão do tumor. Com isso, fica tentador acreditar que uma microbiota equilibrada pode direcionar a desfechos melhores no tratamento da doença. Porém, esse é um conceito muito recente, que carece de mais estudos.

Ilustração dos possíveis mecanismos que modulam a eficácia da quimioterapia e imunoterapia em camundongos (retirada do artigo Cancer and the Microbiota, Garret S. Science. 2015). clique na imagem para visualiza-la melhor.

Assim, vamos aguardar, dentro de poucos anos veremos com mais clareza a relação entre os microrganismos intestinais e a eficácia do tratamento do câncer. Enquanto isso, o que podemos fazer para adquirirmos uma biota intestinal equilibrada é termos hábitos alimentares mais saudáveis, com boa ingestão de fibras (solúveis e insolúveis), fitoquímicos (presentes nas frutas, verduras e legumes) e alimentos contendo probióticos (iogurte, coalhada, leite fermentado), etc.

Prof.ª Dr.ª Patrícia L. Campos-Ferraz

Para saber mais:

Zitvogel L et al. Cancer and gut microbiota: na unexpected link. Science Translational Medicine, vol 7 (271) ps1. 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário