Artigo de revisão publicado em janeiro
de 2015 pela renomada revista SCIENCE TRANSLATIONAL MEDICINE salienta a
importância da microbiota intestinal no tratamento do câncer.
Cabeçalho original do artigo |
A microbiota intestinal é composta de uma
grande diversidade de bactérias que convivem nesse órgão em harmonia com o
hospedeiro. Temos trilhões de bactérias no interior do nosso sistema digestivo,
as quais tem a função de auxiliar a digestão de carboidratos complexos (fibras)
produzindo, a partir deles, compostos com ação anticâncer (ex: butirato). Outra
função desses microrganismos é modular o nosso sistema imune para que ele seja
tolerante a elas, ao mesmo tempo, mantendo um estado de vigilância imunológica,
além de manter a chamada “função barreira”, ou seja, a integridade do tecido
que bloqueia a passagem das bactérias ao interior do mesmo.
Imagem microscópica de um tumor de cólon com três espécies diferentes de bactérias (imagem retirada do artigo Microbial Mystery, Dweerdt S. Nature, 2015) |
A hipótese que os autores desse
artigo propõem é de que fatores ambientais, genéticos, etários e desafios
impostos por doenças podem causar um desequilíbrio nessa comunidade, (disbiose)
levando a uma resposta imune alterada, que pode resultar numa inflamação,
devido à passagem de bactérias pela barreira intestinal, assim como numa maior
toxicidade do epitélio, resultando em alterações metabólicas cujo resultado
final pode ser alteração da capacidade de estimular o sistema imune contra
células neoplásicas, influenciando no desfecho da doença. Se houver uma
disbiose, o desfecho da doença poderia ser piorado, ao passo que, no caso de
uma eubiose (biota equilibrada), o desfecho da doença poderia ser melhorado.
Ilustração da via protetora da mucosa intestinal e a carcinogênese (retirada do artigo Cancer and the Microbiota, Garret S. Science. 2015). clique na imagem para visualiza-la melhor. |
Os mecanismos por trás dessa
hipótese são vários: desde a influência na produção de citocinas
pró-inflamatórias até a potencialização da ação de determinados agentes de
tratamento (quimioterápicos, transplante de célula tronco, etc). Além disso,
uma biota equilibrada poderia influenciar na redução da oncogênese e da
progressão do tumor. Com isso, fica tentador acreditar que uma microbiota
equilibrada pode direcionar a desfechos melhores no tratamento da doença.
Porém, esse é um conceito muito recente, que carece de mais estudos.
Assim, vamos aguardar, dentro de
poucos anos veremos com mais clareza a relação entre os microrganismos
intestinais e a eficácia do tratamento do câncer. Enquanto isso, o que podemos
fazer para adquirirmos uma biota intestinal equilibrada é termos hábitos
alimentares mais saudáveis, com boa ingestão de fibras (solúveis e insolúveis),
fitoquímicos (presentes nas frutas, verduras e legumes) e alimentos contendo
probióticos (iogurte, coalhada, leite fermentado), etc.
Prof.ª Dr.ª Patrícia L. Campos-Ferraz
Para saber mais:
Zitvogel L
et al. Cancer and gut microbiota: na unexpected link. Science Translational Medicine,
vol 7 (271) ps1. 2015.
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