O tratamento quimioterápico utilizado
no combate ao câncer provoca inúmeros efeitos adversos. Estes efeitos podem se
manifestar de diferentes formas e intensidades, dependendo do tipo de droga
utilizada, assim como de sua dosagem e esquema de administração. Muitos dos
agentes quimioterápicos são considerados neurotóxicos e podem provocar
degeneração ou disfunção nos nervos periféricos, ocasionando alterações motoras,
sensitivas e autonômicas. Pacientes que vivenciam este quadro possuem
dificuldade em manter o equilíbrio em situações rotineiras como andar, mudar de
direção, ficar em pé e levantar-se, além da falta de sensibilidade nas mãos e
pés. Esta condição é chamada de
neuropatia periférica induzida pela quimioterapia, sendo muito recorrente
durante o tratamento, acarretando em redução da qualidade de vida do paciente
(ver tabela abaixo de incidência de acordo com a droga e dosagem).
Tabela retirada do artigo "Abordagem da neuropatia periférica induzida pela quimioterapia" (Afonseca et al. 2010). |
Considerando esta situação e
ponderando sobre os benefícios causados pelo exercício no equilíbrio e
propriocepção em uma população saudável, a pesquisadora Dra. Lisa Sprod do Rocky Mountain Cancer Rehabilitation
Institute (Colorado, USA) apresentou, em artigo publicado em 2009, um
protocolo de atividade física a ser aplicado em pacientes durante o tratamento
que integra exercícios de força com de equilíbrio, alternando estímulos com
base fixa (dois pés no chão) com os de base instável (sobre almofadas e discos
de equilíbrios). Segundo a autora, o principal objetivo deste protocolo é de
promover aumento de força e estimular o sistema nervoso periférico, diminuindo
os sintomas neurotóxicos das drogas utilizadas pelos pacientes (veja abaixo
alguns dos exercícios propostos pelo artigo).
Sequência de exercícios propostos no artigo |
Sequência de exercícios propostos pelo artigo - continuação |
Cabeçalho do artigo |
Utilizando um protocolo de
atividade física similar ao proposto pela Dra. Lisa, pesquisadores da
Universidade de Freiburg (Alemanha),
realizaram, em 2014, uma intervenção de 36 semanas em 30 pacientes com linfoma
recebendo tratamento quimioterápico e verificaram melhoras significativas nas
avaliações de equilíbrio (monopodal estático e com perturbação, bipodal e na
retomada do equilíbrio) quando comparado com grupo controle (sedentário). Vale
destacar que, no teste de sensibilidade profunda dos pés e das mãos, 87,5% dos
pacientes que treinaram melhoraram os seus escores contra 0% de pacientes do
grupo sedentário. Também foram
constatados aumentos significativos na qualidade de vida e na capacidade
aeróbica no grupo que treinou.
Cabeçalho do artigo |
Ainda são poucos os estudos de
qualidade que avaliaram os efeitos do exercício na neuropatia induzida pela
quimioterapia, o que não nos dá a certeza de sucesso desta intervenção nesta
população. Porém, pela premissa levantada e pelo que já foi apresentado, a
realização de protocolos da atividade física que contemplem estímulos de
equilíbrio e propriocepção parecem ser promissores na redução destes sintomas.
Até a próxima...
Msc. Rodrigo Ferraz
Para saber mais:
Argyriou, Andreas A., et al. "Chemotherapy-induced
peripheral neuropathy in adults: a comprehensive update of the
literature." Cancer
management and research 6
(2014): 135.
Sprod,
Lisa K. "Considerations for training cancer survivors." Strength and conditioning journal 31.1 (2009): 39.
Streckmann,
F., et al. "Exercise program improves therapy-related side-effects and
quality of life in lymphoma patients undergoing therapy." Annals of oncology 25.2 (2014): 493-499.
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