No tratamento contra o câncer, a combinação de quimioterapia, radioterapia,
cirurgia e, mais recentemente, terapia baseada em anticorpos é empregada para prolongar
a vida e promover a cura. No entanto, muitos dos agentes quimioterápicos e dos anticorpos
utilizados, quer de forma isolada ou combinada, assim como a radioterapia, podem
afetar o sistema cardiovascular, atenuando o sucesso clínico do tratamento, com
um forte impacto na sobrevida e qualidade de vida do paciente.
Manifestações cardiovasculares comuns destas terapias incluem
insuficiência cardíaca, isquemia, hipotensão, hipertensão arterial, edema,
prolongamento do intervalo QT, bradicardia, e tromboembolismo. Podendo ocorrer de forma aguda, durante o tratamento, ou crônica, após a intervenção. A
manifestação mais típica de cardiotoxicidade crônica é a disfunção ventricular sistólica
ou diastólica que pode levar a insuficiência cardíaca congestiva até a morte
cardiovascular.
A irradiação do tórax pode causar danos ao pericárdio, miocárdio, valvas
e artérias coronárias. A incidência de complicações cardiovasculares induzidas
por radioterapia é maior com altas doses de irradiação e com a associação de
quimioterapia com outras medicações. Das drogas prescritas no tratamento
antineoplásico, as que possuem o maior potencial cardiotóxico são as do grupos das Antraciclinas,
uma vez que, o seu uso promove a formação de radicais livres que danificam permanentemente
o miocárdio. A utilização de novos agentes terapêuticos, como o anticorpo monoclonal Trastuzumab,
induz uma disfunção transitória e reversível dos miócitos sem que haja relação
com a dose utilizada. (ver tabelas abaixo de cardiotoxidade dos agentes)
Cardiotoxidade dos agentes quimioterápicos (clique na imagem para visualizar melhor). |
Cardiotoxidade dos anticorpos utilizados na terapia anti-câncer (clique na imagem para visualizar melhor). |
A prescrição de exercícios aeróbicos no tratamento de cardiopatias em
uma população sem câncer já é uma realidade e está associada a melhorias significativas
na fração de ejeção do ventrículo esquerdo, consequência da hipertrofia do
miocárdio. O interesse desta função cardioprotetora do exercício no contexto do
tratamento anti-câncer tem aumentado. Em estudo conduzido pelo pesquisador
Kerry S. Courneya em 2003, após 15 semanas de treinamento aeróbico, três
sessões semanais de 35 min de bicicleta ergométrica, o grupo de 25 pacientes
sobreviventes de câncer de mama aumentou o pico de consumo de oxigênio (marcador
de função cardiopulmonar) em 0,24 L/min,
sendo que o grupo sedentário diminuiu em 0,05 L/min.
Tabela com os valores das variáveis da função cardiovascular pré e pós intervenção e comparação entre os grupos treinado e sedentário (clique na imagem para visualizar melhor) |
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Mais recentemente, em artigo publicado pela Dra. Jessica M. Scott em
2013, os possíveis mecanismos envolvidos na função cardioprotetora da atividade
física em pacientes em terapia de anticorpos foram apresentados. A autora
conclui que o exercício aeróbico age de forma positiva em diversas vias de
sinalização cardíaca implicadas na cardiotoxidade induzida pelo Trastuzumab. Podemos
concluir que, a realização de exercícios aeróbicos agem de forma a minimizar ou
até reverter os efeitos cardiotóxicos das terapias anti-câncer.
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Até a próxima...
MSc. Rodrigo Ferraz
Referências:
Kalil Filho, R., et al. "I Diretriz Brasileira de
cardio-oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia." Arquivos
Brasileiros de Cardiologia 96.2 (2011): 01-52.
Courneya,
Kerry S., et al. "Randomized controlled trial of exercise training in
postmenopausal breast cancer survivors: cardiopulmonary and quality of life
outcomes." Journal
of clinical oncology 21.9 (2003): 1660-1668.
Scott,
Jessica M., et al. "The potential role of aerobic exercise to modulate
cardiotoxicity of molecularly targeted cancer therapeutics." The oncologist18.2 (2013): 221-231.
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