Há alguns anos, foram publicados
estudos (metanálises - revisões sistemáticas de artigos científicos) sugerindo
que a incidência de tumores colorretais aumenta de forma associada a altas
concentrações de IGF-1, um hormônio similar à insulina. Após a ingestão de carboidratos, aumentam os
níveis da insulina e de IGF-1, elevando o aporte energético disponível para as
células com potencial tumoral. Esse dado faz parecer plausível a ideia de que
altas concentrações de insulina e de açúcar no sangue também podem elevar a
incidência desse tipo de câncer.
Um grande estudo de caso-controle
retrospectivo publicado agora em 2015 verificou a associação entre consumo de
açúcares e de carboidratos altamente digeríveis e a incidência de tumores
colorretais no Tennessee, E.U.A. Foram
analisados os hábitos alimentares de 2000 portadores deste tipo de câncer e
comparados com os hábitos de 3000 indivíduos sadios. Foi calculada a razão de
chance de vários tipos de alimentos e sua possível associação com o
aparecimento de tumores. A conclusão é que não houve relação entre o consumo de
carboidratos simples (farinha, amido e açúcares em geral) e a etiologia nos
estados iniciais dessa doença.
Outro estudo de 2005, um coorte prospectivo de grande porte com
23 mil mulheres dinamarquesas pós-menopausadas, analisou o consumo de vários
tipos de açúcares (glicose, frutose, sacarose, amido, lactose) e carboidratos
totais na dieta e também não conseguiu verificar associação entre incidência de
câncer de mama e o consumo desses nutrientes, embora tenha encontrado uma relação
inversa com o índice glicêmico dos alimentos e a incidência de tumores mamários
estrógeno positivos e uma relação direta
no caso dos tumores estrógenos negativos, que os autores não souberam explicar
e atribuíram como efeito do acaso.
Apenas alguns estudos do tipo
caso-controle estabeleceram uma relação positiva entre consumo de carboidrato e
câncer. Vale lembrar que esse tipo de análise
está sujeita a algumas falhas metodológicas, como limitações do tipo viés de
seleção de casos, erros de medidas de carboidratos na dieta, a depender do
questionário utilizado e poder estatístico insuficiente. Finalmente, uma metanálise
publicada em 2012 com 15 mil casos também não conseguiu estabelecer uma
associação entre consumo de carboidratos e incidência do câncer colorretal.
Em conjunto, esses dados nos
mostram que, apesar da plausibilidade biológica aventada por estudos in vitro e com animais, mostrando que o
tumor é um ávido consumidor de glicose e por alguns poucos estudos de
caso-controle, os grandes estudos epidemiológicos (coorte) não conseguem
mostrar essa relação entre açúcar da dieta e incidência de câncer. Assim, a
conduta de reduzir ou mesmo retirar os carboidratos da dieta para tentar
prevenir o aparecimento de câncer, devido à hiperglicemia, não encontra
respaldo na Ciência.
Para saber mais:
Coleman, Helen G., et al. "Aspects of dietary carbohydrate intake are not related to risk of colorectal polyps in the Tennessee Colorectal Polyp Study."Cancer Causes & Control (2015): 1-6.
Profa. Dra. Patrícia L. Campos-Ferraz
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