Gostaria de comentar aqui um texto
que fala sobre a interação entre nutrição e o câncer. Os temas das postagens
passadas ficaram mais focados na questão dos benefícios do exercício físico aos
pacientes em tratamento. Dessa vez, eu, como nutricionista, vou literalmente
“puxar a sardinha para o meu lado”.
Vamos lá! Um texto muito
interessante da renomada pesquisadora Karen Bishop da Universidade de Auckland, Austrália, aponta
que a nutrição pode ter papel importante sobre algumas mudanças genéticas que
as nossas células podem sofrer. Os nossos genes (informação hereditária que
está codificada em nosso DNA) apresentam uma dinâmica própria de funcionamento, alguns podem ser ativados ou desativados por fatores ambientais. Esse é o nosso epigenoma.
Cabeçalho original do artigo. |
O epigenoma é sensível às
mudanças que podem ser causadas pela nossa alimentação. Por exemplo, excesso de
consumo de calorias poderia, segundo essa autora, aumentar a proliferação
celular descontrolada, o que é uma característica do câncer. Dessa maneira, a
redução do consumo de calorias poderia então exercer algum papel na prevenção
do câncer. Alguns alimentos ou
nutrientes parecem contribuir com alterações em nosso epigenoma e causar o câncer.
Entre eles, a autora aponta os seguintes:
Folato (vitamina B6), essencial
para síntese de DNA e proteínas, é obtido da dieta, e a redução de seu consumo resulta
na modificação química de alguns genes promotores de câncer (oncogenes),
podendo ativa-los. O consumo excessivo de
álcool diminui a disponibilidade de folato no organismo, este cenário em pessoas
predispostas a determinados tipos de câncer pode levar a uma ativação desses
oncogenes.
Chá verde |
Os polifenóis agem como antioxidantes, ou seja,
neutralizando a formação de espécies reativas de oxigênio que podem causar danos
celulares. Esses compostos estão presentes no chá verde, café, vinho
tinto, soja, legumes, frutas, etc. O chá
verde contém polifenóis capazes de inibir a invasão tumoral (ocupação do tecido
vizinho) e angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos no tumor) num tipo
de câncer de pele em camundongo. O
resveratrol tem a propriedade de desativar alguns oncogenes sem, no entanto,
exercer esse efeito em genes convencionais.
Grão de café |
Alguns grupos populacionais com
alto consumo de café apresentaram menor risco de recorrência de câncer de
próstata, isto porque o ácido caféico reduz a modificação química de alguns oncogenes.
A genisteína da soja se liga ao receptor de estrógeno das células e é exemplo
de outro polifenol que pode inibir o crescimento de tumor estrógeno-positivo,
ou seja, daquele tumor hormônio-dependente. A genisteína também parece capaz de
inibir oncogenes em linhagens de células de câncer de próstata. Outros
nutrientes que parecem exercer efeito inibidor oncogênico são o selênio
(presente na castanha do Pará) e o licopeno (presente no tomate) em quantidades
moderadas.
Castanha do Pará |
A autora conclui que algumas
dietas estão mais associadas a alguns tipos de câncer, tais como a dieta
ocidental, pobre em fibras, frutas, legumes, verduras e ricas em gordura
saturada e câncer de cólon. Essas associações, segundo ela, são um ponto de
partida para maiores estudos sobre hábitos alimentares e modificações no
epigenoma e suas relações com alguns tipos de câncer.
Profa. Dra. Patrícia Lopes de Campos Ferraz
Profa. Dra. Patrícia Lopes de Campos Ferraz
Para saber
mais:
Bishop, Karen S., and Lynnette R. Ferguson. "The Interaction
between Epigenetics, Nutrition and the Development of Cancer." Nutrients 7.2 (2015): 922-947.
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