Os efeitos secundários causados pela terapia anticâncer (cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia hormonal) são recorrentes e podem persistir por anos após o tratamento - fadiga crônica e a redução da qualidade de vida (QV) são os mais frequentes. A perda da função física, causada principalmente pelas alterações da força muscular e da composição corporal (comuns em pacientes oncológicos), potencializa este quadro. Neste sentido, tendo em vista os efeitos comprovados na redução destas sequelas em populações com diferentes patologias crônicas, o treinamento de força (TF), também conhecido como musculação, surge como uma promissora ferramenta de intervenção no câncer (CA). Entender seus efeitos é fundamental para o êxito da prescrição do treinamento físico para esta população.
Em recém-publicada revisão de literatura, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte investigaram os efeitos específicos da realização de um programa de TF em diversos tipos de CA (mama, próstata, cabeça e pescoço, pulmão, gastrointestinal e de células germinativas). Destaco nesta postagem o CA de próstata.
Cabeçalho do artigo citado. |
Para
o CA de próstata, 11 estudos preencheram os critérios de inclusão. Os resultados
foram obtidos a partir de treinamentos que duraram, em média, 4 meses, com frequência
de sessões de 2-3 por semana e intensidade de cargas variada. Foram incluídos
voluntários com idade média de 67 anos e com diversos estadiamentos do CA de próstata - iniciais e avançados. (ver tabela abaixo com a descrição destes itens)
- Força - o TF foi capaz de induzir grandes aumentos de força em membros inferiores (29%) e nos superiores (25%), dados similares aos encontrados em mulheres com CA de mama que realizam um TF (ver estes dados em nossa publicação anterior). Para os testes de 8-RM (repetições máximas) na extensão de joelhos e no supino, a melhora foi de, respectivamente, 26% e 22%. Não foram observadas alterações nos grupos controle (sedentário).
- Composição corporal – tendência de aumento de massa magra e redução de gordura. As grandes alterações foram observadas regionalmente: hipertrofia do músculo quadríceps (coxa), com aumento de volume (6,4%). Também se constatou incrementos (12%) na área da coxa, enquanto que, no controle, houve diminuição (-8,5%). A hipertrofia seletiva de fibras do tipo II foi a principal responsável por estes resultados nos grupos que treinaram.
- Avaliação Funcional – reduções significativas nos tempos de execução nos testes Timed up and go (-8,2%), caminhada de 6 minutos (-10%) e de 400 mts (-7,9%), subir escadas (-8,5%) e aumento no número de repetições no Levantar e sentar (14%). Vistos em conjunto, estes resultados, indicam significativa melhora na funcionalidade dos pacientes. A capacidade aeróbica não se alterou.
- Avaliação Psicossocial – assim como o CA de mama, os estudos utilizaram diferentes questionários para avaliar fadiga e QV. Independentemente de qual foi usado, o TF parece reduzir fadiga, enquanto que os controles tendem a piorar. A QV manteve-se inalterada quando foi utilizado um questionário com perguntas específicas para CA de próstata (FACT-P), mas melhorou utilizando um questionário geral (FACT-G).
Conclui-se então que os benefícios da realização de um TF em pacientes com CA de prostáta são inúmeros, principalmente na melhora da força e funcionalidade, impactando positivamente nas sequelas mais comuns do tratamento (fadiga e QV).
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
Artigo citado:Hanson, Erik D., et al. "The Independent Effects of Strength Training in Cancer Survivors: a Systematic Review." Current oncology reports 18.5 (2016): 1-18.
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