Nas últimas décadas, a eficácia da
terapia anticâncer (cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e
terapia hormonal) aumentou consideravelmente. No entanto, os efeitos secundários
causados por ela são recorrentes e podem persistir por anos após o final do
tratamento. Os mais comuns são a fadiga crônica e a redução da qualidade de
vida (QV), que são potencializados pela perda da função física, causada principalmente
pelas alterações da força muscular e da composição corporal, muito comuns em
pacientes oncológicos.
O treinamento físico aeróbio foi
a primeira modalidade de intervenção estudada em sobreviventes de câncer (CA) de
mama com resultados favoráveis na redução da fadiga e aumento da QV. Mais recentemente,
os estudos se expandiram e passaram a incluir também o treinamento de força (TF),
também conhecido como musculação, em diferentes tipos de câncer, com vários efeitos
benéficos e eventos adversos mínimos. Entretanto, o TF possui características de
execução e respostas fisiológicas singulares, especificamente, alterações de
hipertrofia e força muscular - ganhos que podem melhorar a função física,
diminuir a fadiga e, finalmente, produzir uma melhora na QV. Entender estes
efeitos específicos é fundamental para aumentar a eficácia da prescrição de um
treinamento físico.
Em recém-publicada revisão de literatura, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte investigaram os efeitos específicos da realização de um programa de TF em diversos tipos de CA (mama, próstata, cabeça e pescoço, pulmão, gastrointestinal e de células germinativas). Destaco nesta postagem o CA de mama.
Cabeçalho do artigo citado. |
Para o CA de mama, 16 estudos preencheram os critérios de inclusão. Os resultados foram obtidos a partir de treinamentos que duraram, em média, 8 meses, com frequência de sessões de 2-3 por semana e intensidade de cargas foi de moderada a alta (50-85% de 1RM – uma repetição máxima). Na maioria dos estudos, o estágio diagnosticado do CA das voluntárias foi inicial. (ver tabela abaixo com a descrição destes itens)
Os resultados foram os seguintes:
- Força - O TF foi capaz de induzir grandes aumentos de força em membros inferiores (29%) e nos superiores (23%). Em um dos estudos, no teste de 10RM (dez repetições máximas), pré e pós-intervenção, realizado no supino (chest press), o aumento foi de até 88%. Em outra intervenção, os testes de 8RM no supino e na extensão da perna também apresentaram ganhos de força significativos apenas no grupo TF.
- Composição corporal – o TF diminuiu consideravelmente o percentual de gordura corporal no grupo de exercício, enquanto os controles tiveram aumentos. A densidade mineral óssea não se alterou.
- Avaliação Funcional - Melhoras significativas em provas de função de braços (aumento em 18%). Também foram constatadas melhoras no equilíbrio e na caminhada. A capacidade aeróbica não se alterou.
- Avaliação Psicossocial – melhora em 19% na imagem coporal após a realização de um protocolo de TF, indicando menor preocupação com as aparências físicas. Também houve redução da ansiedade, depressão e fadiga, impactando em melhora da QV nas pacientes. No entanto, as controles tiveram respostas semelhantes com magnitudes menores, exceto a fadiga, que aumentou.
Fica claro que os benefícios da
realização de um TF em pacientes com CA de mama são inúmeros, principalmente na
força, função física e QV. Portanto, o TF apresenta-se como uma alternativa de
intervenção terapêutica não farmacológica muito promissora nesta população.
Na próxima publicação abordaremos
os efeitos do TF no paciente com CA de próstata.
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Até lá...
Rodrigo Ferraz
Artigo citado:
Hanson,
Erik D., et al. "The Independent Effects of Strength Training in Cancer
Survivors: a Systematic Review." Current oncology reports 18.5
(2016): 1-18.
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