07 setembro, 2016

O exercício fortalece nossas defesas naturais anticâncer.



Desde o fim do séc. IXX estudos científicos evidenciam que a atividade física potencializa a circulação de células imunes, podendo assim agir diretamente no sistema imunológico e no combate a várias doenças. No câncer, os benefícios de adotar um estilo de vida mais ativo estão se tornando cada vez mais evidentes. Dados de intervenções com exercícios, realizados durante ou após a terapia antineoplásica, relatam efeitos favoráveis na funcionalidade e nas principais sequelas provocadas pela doença no paciente. Além disso, recentes achados em estudos observacionais mostram que o exercício também modifica a dinâmica do crescimento tumoral, sendo capaz de reduzir o risco de recorrência da doença em sobreviventes de câncer colorretal, próstata e mama.

De fato, vários protocolos experimentais em animais vêm demonstrando que a realização de um protocolo de treinamento aeróbico é capaz de inibir o crescimento do tumor, mediado, sobretudo, pela infiltração intratumoral de células Natural Killer (NK) – parte constituinte do sistema imunológico inato e responsáveis pela proteção inicial contra infecções e tumores -, e que, em alguns estudos, contribuiu para reduções de até 60% no crescimento tumoral nos ratos exercitados.

Em humanos, a mobilização aguda de células NK via exercício ocorre logo após o inicio de exercícios com alta intensidade de esforço - associados à falta de ar, a elevação do ritmo cardíaco e de aumentos das concentrações plasmáticas de catecolanimas (noradrenalina, dopamina e adrenalina). Em resposta as elevações destas moléculas, e com função de induzir respostas metabólicas adaptativas, os miócitos (fibras musculares) liberam as miocinas. Contudo, várias destas miocinas também atuam na mobilização de células imunitárias, incluindo a IL-15, IL-7 e IL-6, cujo papel é fundamental na proliferação, maturação e ativação das NKs dependente do exercício. (ver ilustração abaixo)

Ilustração do processo de mobilização de células NK estimulado pelo exercício. (Idorm Manja, 2016). Clique na imagem para ampliar.

Esta “cascata” de eventos é imediata e uniforme, sugerindo então que exista um limiar mínimo necessário para a mobilização das NKs e, uma vez que este estímulo ocorra, a resposta é baseada no “tudo ou nada”. Em geral, a ativação máxima é alcançada dentro de 30 minutos. Por outro lado, exercícios prolongados, superiores a 3 horas, podem conduzir a supressão de NKs circulantes. (ver gráfico abaixo)

Gráfico de mobilização de células imunes durante a realização de exercícios. (Idorm Manja, 2016). Clique na imagem para ampliar. 
Além da liberação destes fatores sistêmicos, o exercício também regula a perfusão sanguínea e o consumo de oxigênio, promovendo melhoria da vascularização intratumoral. Desta forma, limita a hipóxia intratumoral e aumenta a acessibilidade da circulação de células do sistema imunológico e de compostos antineoplásicos aos tumores, tornando-os mais suscetíveis à morte induzida pelo tratamento.

Cabeçalho do artigo de referência

Ainda são necessários mais estudos em humanos para comprovar a maioria destes achados. Todavia, diante ao exposto, o exercício apresenta-se como uma potencial e promissora ferramenta anticâncer.


Quer saber mais sobre o assunto? Leia estas nossas outras publicações:



Artigo de referência:

Idorn, Manja, and Pernille Hojman. "Exercise-Dependent Regulation of NK Cells in Cancer Protection." Trends in molecular medicine (2016).


Até a próxima...

Rodrigo Ferraz

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