Desde o fim do séc. IXX estudos científicos evidenciam que a atividade física potencializa a circulação de células imunes, podendo assim agir diretamente no sistema imunológico e no combate a várias doenças. No câncer, os benefícios de adotar um estilo de vida mais ativo estão se tornando cada vez mais evidentes. Dados de intervenções com exercícios, realizados durante ou após a terapia antineoplásica, relatam efeitos favoráveis na funcionalidade e nas principais sequelas provocadas pela doença no paciente. Além disso, recentes achados em estudos observacionais mostram que o exercício também modifica a dinâmica do crescimento tumoral, sendo capaz de reduzir o risco de recorrência da doença em sobreviventes de câncer colorretal, próstata e mama.
De fato, vários protocolos experimentais em animais vêm demonstrando que a realização de um protocolo de treinamento aeróbico é capaz de inibir o crescimento do tumor, mediado, sobretudo, pela infiltração intratumoral de células Natural Killer (NK) – parte constituinte do sistema imunológico inato e responsáveis pela proteção inicial contra infecções e tumores -, e que, em alguns estudos, contribuiu para reduções de até 60% no crescimento tumoral nos ratos exercitados.
Em humanos, a mobilização aguda de células NK via exercício ocorre logo após o inicio de exercícios com alta intensidade de esforço - associados à falta de ar, a elevação do ritmo cardíaco e de aumentos das concentrações plasmáticas de catecolanimas (noradrenalina, dopamina e adrenalina). Em resposta as elevações destas moléculas, e com função de induzir respostas metabólicas adaptativas, os miócitos (fibras musculares) liberam as miocinas. Contudo, várias destas miocinas também atuam na mobilização de células imunitárias, incluindo a IL-15, IL-7 e IL-6, cujo papel é fundamental na proliferação, maturação e ativação das NKs dependente do exercício. (ver ilustração abaixo)
Ilustração do processo de mobilização de células NK estimulado pelo exercício. (Idorm Manja, 2016). Clique na imagem para ampliar. |
Esta “cascata” de eventos é imediata e uniforme, sugerindo então que
exista um limiar mínimo necessário para a mobilização das NKs e, uma vez que este estímulo ocorra, a resposta é baseada no “tudo
ou nada”. Em geral, a ativação máxima é alcançada dentro de 30 minutos. Por
outro lado, exercícios prolongados, superiores a 3 horas, podem conduzir a
supressão de NKs circulantes. (ver gráfico abaixo)
Gráfico de mobilização de células imunes durante a realização de exercícios. (Idorm Manja, 2016). Clique na imagem para ampliar. |
Além da liberação destes fatores
sistêmicos, o exercício também regula a perfusão sanguínea e o consumo de
oxigênio, promovendo melhoria da vascularização intratumoral. Desta forma, limita
a hipóxia intratumoral e aumenta a acessibilidade da circulação de células do
sistema imunológico e de compostos antineoplásicos aos tumores, tornando-os
mais suscetíveis à morte induzida pelo tratamento.
Cabeçalho do artigo de referência |
Ainda são necessários mais estudos em
humanos para comprovar a maioria destes achados. Todavia, diante ao exposto, o
exercício apresenta-se como uma potencial e promissora ferramenta anticâncer.
Quer saber mais sobre o assunto? Leia estas
nossas outras publicações:
Artigo de referência:
Idorn, Manja, and
Pernille Hojman. "Exercise-Dependent Regulation of NK Cells in Cancer
Protection." Trends
in molecular medicine (2016).
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
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