O câncer (CA) de mama é o mais comum entre as mulheres – o prognóstico é de 58 mil novos casos no Brasil em 2016, equivalente a 28% do total. Os recentes avanços no diagnóstico e no tratamento elevaram a taxa de sobrevivência (em cinco anos), que chega ao redor de 80%. Por efeito, estima-se que, em 2020, o número de sobreviventes de CA de mama chegue a 11 milhões no Mundo.
Entretanto, a atual abordagem terapêutica, que consiste em cirurgia, radioterapia e terapias sistêmicas, associa-se a inúmeros efeitos colaterais que podem afetar as pacientes para o resto de suas vidas. Quase todas as pacientes com CA de mama manifestam ao menos uma comorbidade. O desfecho mais comum deste cenário é a redução da qualidade de vida e da expectativa de vida. Neste sentido, o exercício tem se mostrado uma importante ferramenta terapêutica no manejo destes efeitos.
Apresento lista de algumas comorbidades sofridas pelas pacientes com CA de mama e das evidências científicas de como o exercício pode mitiga-las:
- Redução da capacidade física – importante preditor de mortalidade, pacientes com CA de mama possuem capacidade física 30% inferior aos indivíduos saudáveis da mesma idade. Tanto o treinamento aeróbico quanto o de força são capazes de promover alterações fisiológicas/metabólicas nesta população, expressas, por exemplo, na melhora considerável do VO2máx.
- Cardiopatias – certos medicamentos podem induzir a apoptose e necrose de cardiomiócitos. Até 39% das pacientes tratadas com Antraciclinas apresentam eventos cardíacos em algum momento da vida. O aumento da mortalidade, mesmo após 15 anos do tratamento, é a principal consequência. Em pacientes com CA de mama, o exercício aeróbico promove aumentos da contratilidade, elasticidade e irrigação do músculo cardíaco e de volume do ventrículo esquerdo.
- Obesidade - 68% das pacientes tem um ganho médio de 4Kg (variando entre 1 e 27kg) durante o tratamento, mesmo quando submetidas a dieta. Tanto o treinamento de força quanto o aeróbico são eficazes em controlar o ganho de peso em pacientes pré e pós-menopausa.
- Osteopenia – altas taxas de perda de densidade mineral óssea (DMO) estão presentes em 78% das pacientes. O treinamento de força é efetivo em diminuir a perda da DMO – principalmente nos membros superiores.
- Disfunção Cognitiva – distúrbios de memória, velocidade de processamento, atenção ou de função executiva podem ocorrer em 75% das pacientes, impactando negativamente na vida diária e interação social. O exercício é capaz de aumentar a plasticidade cerebral, principalmente os de coreografia de dança.
- Fadiga – evidente em 48% das pacientes, a fadiga é considerada patológica quando persiste por meses. O cansaço promove aumento do sedentarismo, levando à depressão e piorando a qualidade de vida. Em recente revisão, o exercício, em intensidades moderadas ou vigorosas, mostrou-se eficaz em reduzir a fadiga durante e após o tratamento. Nas pacientes em tratamento, houve um aumento de 29% dos níveis de fadiga nas sedentárias, enquanto que, nas que se exercitaram, ocorreu redução de 4% destes níveis.
Ver imagem abaixo com as principais alterações promovidas pelo exercício físico nas pacientes com CA de mama:
Antes e Depois - alterações promovidas pelo exercício nas principais comorbidades (Casla, et al. 2014) - clique na imagem para amplia-la. |
Isto posto, o exercício físico torna-se então
opção primária durante e após o tratamento anti-câncer de mama, uma vez que a
abordagem farmacológica não é eficiente na redução de muitas destas
comorbidades.
Para saber mais:
Cabeçalho do artigo citado abaixo |
Casla, S., et al.
"Running away from side effects: physical exercise as a complementary
intervention for breast cancer patients." Clinical and Translational Oncology 17.3 (2015): 180-196.
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
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