O interesse científico sobre uso da creatina como suplemento nutricional em pacientes com câncer vem crescendo. Primeiro por que ela já tem um uso consagrado na área esportiva no que tange o ganho de massa muscular e força. Além disso, vários autores já pontuaram seu potencial terapêutico em diferentes patologias, tais como fibromialgia, diabetes, distrofia muscular, osteopenia, etc.
Nesse sentido,
uma interessante revisão recém-publicada na revista Amino Acids mostra que a creatina cinase (CK – creatine kinase), principal
enzima que regula a conversão de creatina em fosfocreatina, pode ser um
potencial biomarcador em células cancerosas (ver cabeçalho do artigo na imagem abaixo). Vamos entender: a CK tem o papel
de regular os estoques de ATP (molécula com função de estocar e fornecer
energia) no interior da célula, estoques esses que são fundamentais para manter
o ciclo de divisão celular. Ou seja, para que haja formação de novas células ou
que chamamos de “diferenciação celular”, deve haver um suprimento de energia
dependente em grande parte dessa enzima (ver imagem abaixo com o papel da CK no ciclo celular).
Cabeçalho do artigo citado acima. |
Papel da CK no ciclo de regulação celular - retirado do artigo. (Yong-Bin Yan, 2016) - Clique na imagem para ampliá-la. |
Nas células cancerosas, que são sabidamente “desdiferenciadas” (células diferenciadas que voltam a ser indiferenciadas – sem função específica), sabe-se, há mais de 30 anos, que a atividade dessa enzima é atípica, ora sendo reduzida, ora aumentada, a depender do tipo de malignidade e da fase de divisão celular. A alteração da expressão de CK na célula cancerosa pode estar relacionada à diminuição da mitose (divisão celular), bem como ao aumento da apoptose (morte celular). O que o autor dessa revisão propõe é que a CK no citosol (líquido que preenche o citoplasma) esteja acoplada à PFK (fosfofrutocinase - principal enzima da via glicolítica) na célula tumoral. Entretanto, quando se suplementa creatina ou seus análogos (ciclocreatina), parece haver um desacoplamento da CK citosólica e do metabolismo glicolítico, podendo tornar o metabolismo tumoral, que é mais acídico, mais oxidativo. Isso quer dizer que as características metabólicas típicas da célula tumoral, como avidez por glicose, vão se tornando mais próximas às das células normais, que utilizam mais energia vinda do metabolismo mitocondrial. Daí vem o efeito anticâncer da creatina documentado em vários estudos (ver imagem abaixo com as possíveis ações da CK na progressão do câncer).
Possíveis ações da CK na progressão do câncer - retirada do artigo. (Yong-Bin Yan, 2016) - Clique na imagem para ampliá-la. |
Recentemente, dois estudos de nossa autoria puderam comprovar o efeito anticâncer da creatina, onde houve redução do crescimento tumoral em 30% em ratos implantados com carcinossarcoma de Walker 256 em ambos os trabalhos. Entre no link O potencial efeito anticâncer da creatina para saber mais destes estudos. Esse dado está em consonância com outros grupos e, embora sejam necessários mais estudos mecanísticos para elucidar o efeito da creatina, a hipótese de trabalho aventada pelo autor dessa revisão parece ser muito promissora. Esperemos, pois, pelos estudos futuros!
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Até a próxima...
Dra. Patrícia Ferraz
Referências:
Yan, Y. B. Creatine kinase in cell
regulation and câncer. Amino Acids. DOI 10.1007/s00726-016-2217-0
Campos-Ferraz,
P. L. et al. Exploratory
studies of the potential anti-cancer effects of creatine. Amino Acids. 1-9. 12
february 2016.
Deminice, R. et al. Creatine
supplementation prevents
hyperhomocisteinemia, oxidative stress and cancer-induced cachexia
progression in Walker-256 tumor bearing rats. Amino Acids. 1-10. 19 january
2016.
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