O câncer é uma doença cujos
tratamentos são específicos. Estes exigem força, disciplina, resiliência, tanto
do portador como dos familiares. Idas a
hospitais, consultas, exames e mais exames, lidar com os efeitos colaterais de
cada tratamento, enfim, ver a vida de outro ângulo. Tudo isso exige equilíbrio
emocional e confiança.
Vivemos em um tempo onde as
opções de tratamento são mais vastas, as chances de cura também. A qualidade de vida pode ser melhorada
durante esse período, assunto sobre o qual temos escrito regularmente. Então, mostraremos
um interessante estudo de caso sobre uma paciente que decidiu enfrentar sua
batalha de uma forma muito peculiar: treinando para completar uma maratona (42Km) pela
primeira vez!
Uma alemã de 39 anos descobriu um
linfoma de Hodgkin já em estadiamento IIb e foi imediatamente indicada para quimioterapia.
Ela enfrentava um momento pessoal difícil, devido à recente perda de um
familiar pela mesma doença, além de um divórcio e do desemprego. Pouco tempo depois, já com o tratamento em
curso, ela solicitou aos seus médicos que dessem alguma atividade de apoio, já
que não estava se sentindo bem em ficar tanto tempo em casa. Seus exames de
sangue estavam dentro da normalidade nesse momento, assim como o eletro/ecocardiograma. Portanto, os médicos sugeriram que ela
procurasse um fisiologista do exercício e que fizesse um teste de tolerância ao
esforço físico. Utilizando o protocolo de Bruce, o teste ergoespirométrico com
limiar de lactato foi realizado, e foi detectado que ela tinha um VO2max de
39ml/kg peso/min, considerado bom para pacientes com sua doença e grau de estadiamento.
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Assim, ela foi liberada para
começar um programa extensivo de atividade física aeróbica quatro vezes por
semana. Entre o primeiro e o segundo
ciclo de quimio, ela mostrou interesse em completar uma maratona, já que
possuía experiência prévia com corrida. Assim, ela começou a treinar mais
seriamente e logo foi capaz de correr 10 km em 1h22min. Ela conseguia treinar normalmente, exceto no
dia da infusão e no dia subsequente.
Dessa forma, ela cumpriu seu
treinamento e completou alguns meses depois, sua primeira maratona, em
Frankfurt, com o tempo de 4h37min. O único ajuste no tratamento a ser feito
foi postergar o terceiro ciclo de quimio por 10 dias, para que ela pudesse
correr a prova. Tudo foi feito em comum acordo com seu oncologista e o
fisiologista do exercício, já que os medicamentos que infundia exigiam que ela
monitorasse sua capacidade cardíaca.
É claro que isso não deve ser
feito sem consentimento do seu médico nem sem acompanhamento especializado. Mas
esse estudo de caso mostra que, para um paciente em quimio que tenha condição
física e força de vontade, os limites podem estar muito além daqueles que
imaginamos. Certamente, completar uma maratona num tempo excelente como esse
deve ter feito muito bem a auto-estima dessa paciente que, ao superar seus
limites de uma forma emblemática como essa, também deve ter enfrentado toda a sua
situação com muito mais confiança!
Profa. Dra. Patrícia Campos-Ferraz
Profa. Dra. Patrícia Campos-Ferraz
Para saber mais
Bernhorster M et
al. Marathon run under
chemotherapy: is it possible? Onkologie, 2011 (34): 259-261.
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