Em nosso texto passado (SUPERAÇÃO), apresentamos o caso de
uma alemã que, durante a sua intervenção quimioterápica, iniciou um protocolo
de exercícios aeróbicos e conseguiu completar uma maratona (42Km). Este caso levanta
algumas questões: Qual será o volume (quantidade) de exercícios que o paciente
é capaz de suportar sem prejudicar seu tratamento? Existe uma medida ótima e uma
máxima de volume no treinamento?
Para tentar elucidá-las, apresento os resultados de um interessante
estudo, publicado em 2013 pelo grupo do pesquisador Kerry S. Courneya (Universidade
de Alberta, Canadá), que avaliou o efeito de três protocolos de exercícios com
diferentes volumes em 301 pacientes em tratamento adjuvante para câncer de mama.
Os volumes foram ajustados segundo as recomendações do Colégio Americano de
Medicina Esportiva (ACSM – American
College of Sports Medicine) para pacientes sobreviventes de câncer, de
forma que um dos grupos realizou 75min de exercícios aeróbicos por semana, o
equivalente a três sessões semanais de 25/30 min, e os outros dois, considerados de alto volume, foram divididos em 150min por semana, três sessões de 50/60 min
semanais e 75min combinado com musculação.
Cabeçalho original do artigo. |
Após o período de treinamento, iniciado na primeira semana de
quimioterapia e encerrado quatro semanas após a última sessão de infusão, as
pacientes que tiveram os maiores benefícios foram as que realizaram os
protocolos de alto volume. Dentre os achados, destacam-se nestes dois grupos, os
maiores efeitos na melhora da capacidade física e reduções mais significativas na
dor/sofrimento, este último achado foi creditado aos aumentos observados na
produção de β-endorfina, hormônio relacionado à sensação de bem-estar e redução
da dor.
Também não ocorreram efeitos adversos e nem diferenças na
aderência à quimioterapia em todos os grupos. Ou seja, os três protocolos não interferiram
na programação/aplicação do tratamento anti-câncer. O ponto negativo fica por
conta da menor aderência aos protocolos de alto volume, uma vez que as
pacientes do grupo 75min foram as que conseguiram completar o maior número de
sessões de treino planejadas. Porém, este fato não foi capaz de influenciar o
resultado final do tratamento nestes grupos.
Isto posto, podemos, juntamente com os achados de estudos já
apresentados em posts anteriores, concluir
que a aplicação de protocolos de treinamento com alto volume em mulheres durante
o tratamento do câncer de mama é eficaz, segura e tolerável. Parece não existir
uma medida ótima de volume capaz de induzir as melhores respostas, isto porque
a sua prescrição deve ser modulada conforme as condições físicas apresentadas
pelo paciente, e que os treinos considerados de alto volume (150min por semana)
devem ser organizados de maneira progressiva, respeitando a adaptação
fisiológica.
Até a próxima.
MSc Rodrigo Ferraz
Para saber mais:
Courneya, Kerry S., et al.
"Effects of exercise dose and type during breast cancer chemotherapy:
multicenter randomized trial." Journal of the National Cancer Institute 105.23 (2013): 1821-1832.
PANEL, EXPERT. "American College of Sports
Medicine roundtable on exercise guidelines for cancer survivors." (2010):
1409-1426.
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