22 junho, 2015

Qual a quantidade ideal de exercício durante o tratamento?


Em nosso texto passado (SUPERAÇÃO), apresentamos o caso de uma alemã que, durante a sua intervenção quimioterápica, iniciou um protocolo de exercícios aeróbicos e conseguiu completar uma maratona (42Km). Este caso levanta algumas questões: Qual será o volume (quantidade) de exercícios que o paciente é capaz de suportar sem prejudicar seu tratamento? Existe uma medida ótima e uma máxima de volume no treinamento?

Para tentar elucidá-las, apresento os resultados de um interessante estudo, publicado em 2013 pelo grupo do pesquisador Kerry S. Courneya (Universidade de Alberta, Canadá), que avaliou o efeito de três protocolos de exercícios com diferentes volumes em 301 pacientes em tratamento adjuvante para câncer de mama. Os volumes foram ajustados segundo as recomendações do Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM – American College of Sports Medicine) para pacientes sobreviventes de câncer, de forma que um dos grupos realizou 75min de exercícios aeróbicos por semana, o equivalente a três sessões semanais de 25/30 min, e os outros dois, considerados de alto volume, foram divididos em 150min por semana, três sessões de 50/60 min semanais e 75min combinado com musculação.

Cabeçalho original do artigo.

Após o período de treinamento, iniciado na primeira semana de quimioterapia e encerrado quatro semanas após a última sessão de infusão, as pacientes que tiveram os maiores benefícios foram as que realizaram os protocolos de alto volume. Dentre os achados, destacam-se nestes dois grupos, os maiores efeitos na melhora da capacidade física e reduções mais significativas na dor/sofrimento, este último achado foi creditado aos aumentos observados na produção de β-endorfina, hormônio relacionado à sensação de bem-estar e redução da dor.

Também não ocorreram efeitos adversos e nem diferenças na aderência à quimioterapia em todos os grupos. Ou seja, os três protocolos não interferiram na programação/aplicação do tratamento anti-câncer. O ponto negativo fica por conta da menor aderência aos protocolos de alto volume, uma vez que as pacientes do grupo 75min foram as que conseguiram completar o maior número de sessões de treino planejadas. Porém, este fato não foi capaz de influenciar o resultado final do tratamento nestes grupos.

Isto posto, podemos, juntamente com os achados de estudos já apresentados em posts anteriores, concluir que a aplicação de protocolos de treinamento com alto volume em mulheres durante o tratamento do câncer de mama é eficaz, segura e tolerável. Parece não existir uma medida ótima de volume capaz de induzir as melhores respostas, isto porque a sua prescrição deve ser modulada conforme as condições físicas apresentadas pelo paciente, e que os treinos considerados de alto volume (150min por semana) devem ser organizados de maneira progressiva, respeitando a adaptação fisiológica.

Até a próxima.

MSc Rodrigo Ferraz

Para saber mais:

Courneya, Kerry S., et al. "Effects of exercise dose and type during breast cancer chemotherapy: multicenter randomized trial." Journal of the National Cancer Institute 105.23 (2013): 1821-1832.

PANEL, EXPERT. "American College of Sports Medicine roundtable on exercise guidelines for cancer survivors." (2010): 1409-1426.

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