Nas duas postagens anteriores, mostramos, a partir de dados da literatura científica, os benefícios causados pela realização sistemática e orientada de um programa de atividade física durante e após o tratamento, assim como o tipo (modalidade) de exercício mais efetivo na redução da fadiga crônica. Dando continuidade a esta temática, nesta terceira postagem abordaremos a importância da atenuação da fadiga durante o tratamento no aumento da expectativa de vida do sobrevivente.
Em estudo conduzido por Groenvold
e col. (2007), do Departamento de Medicina Paliativa do Hospital Bispebjerg em Copenhagen
(Dinamarca), dois parâmetros (fadiga e sofrimento psíquico) foram medidos em
1588 pacientes com câncer de mama durante a intervenção terapêutica. Após cinco
anos coletando dados destes pacientes, foi encontrada uma relação direta entre os
níveis de fadiga e o sofrimento psicológico sentidos durante o tratamento na
recidiva (reaparecimento do câncer) e na sobrevida pós-tratamento. Os pacientes
que tiveram um maior sofrimento mental e elevada fadiga foram os que
apresentaram, ao longo do tempo, uma maior taxa de recidivas e
consequentemente, um menor tempo de vida (ver gráfico abaixo).
(Groenvold et col. 2007) |
No primeiro gráfico acima, “Probabilidade da não ocorrência
da recidiva nos sobreviventes (RFS)”, vemos que os pacientes que alcançaram um
escore de fadiga mais baixo durante o tratamento (linha preta) possuem uma
maior probabilidade da não ocorrência de uma recidiva ao longo dos anos (ex. 8 anos
após o tratamento, o grupo fadiga baixa apresenta uma probabilidade de
aproximadamente 50% à não recidiva, sendo que o grupo fadiga alta apresenta um
valor de 40%). No gráfico de “Probabilidade de sobrevivência (OS)”, a tendência
segue a mesma, o grupo que apresentou maior robustez emocional durante o
tratamento (linha preta) tem uma probabilidade de sobrevivência maior com o
passar dos anos quando comparado ao grupo de menor robustez emocional.
Os autores levantam dois
possíveis modelos para justificar estes achados. O primeiro, chamado de “Modelo
de mente-corpo”, aponta que pacientes que apresentam maior sofrimento psíquico
têm um risco elevado de recidivas e morte devido ao trauma emocional causado
pelo tratamento: há um caminho causal da mente para o corpo. Esta é a linha psico-neuro
imunológica do pensamento que liga distúrbios psicológicos (por exemplo,
depressão) ao sistema imunológico e, subsequentemente, a resistência ao câncer.
A segunda interpretação, chamada de “Modelo de Robustez”, explica que a falta
de sofrimento psíquico reflete robustez mental, bem como física. Em contraste
com o modelo anterior, o caminho causal é o de robustez física e mental para a
falta de sofrimento psicológico e da resistência ao câncer.
Este estudo apresenta um novo conceito sobre a necessidade da redução
dos níveis de fadiga e a importância de exercícios durante o tratamento, uma
vez que independente do modelo adotado, fica claro que a realização de
um programa de atividade física parece ser uma medida essencial não só para a
melhora nos parâmetros de funcionalidade e qualidade de vida, mas também para o
aumento da expectativa de vida e redução de recidivas do sobrevivente. Em nossa
primeira postagem sobre o assunto (título: Seria um contrassenso combater a
fadiga crônica com exercício?), afirmamos que indivíduos bem condicionados possuem uma maior
resistência, ou robustez, para sustentar condições metabólicas extremas,
afirmação que vem de encontro aos modelos propostos pelo estudo.
Oncofitness também está no Facebook e no Instagram
Msc. Rodrigo Ferraz
Prof.a Dr.a
Patrícia L. Campos-Ferraz
Referências:
Groenvold, Mogens, et al. "Psychological
distress and fatigue predicted recurrence and survival in primary breast cancer
patients." Breast cancer research and treatment 105.2 (2007): 209-219.
#oncofitness #atividadefísica #fadiga #musculação #longevidade #cancer #cancerdemama
Nenhum comentário:
Postar um comentário