24 abril, 2015

Reduzir a fadiga crônica pode significar viver mais!


Nas duas postagens anteriores, mostramos, a partir de dados da literatura científica, os benefícios causados pela realização sistemática e orientada de um programa de atividade física durante e após o tratamento, assim como o tipo (modalidade) de exercício mais efetivo na redução da fadiga crônica. Dando continuidade a esta temática, nesta terceira postagem abordaremos a importância da atenuação da fadiga durante o tratamento no aumento da expectativa de vida do sobrevivente.


Em estudo conduzido por Groenvold e col. (2007), do Departamento de Medicina Paliativa do Hospital Bispebjerg em Copenhagen (Dinamarca), dois parâmetros (fadiga e sofrimento psíquico) foram medidos em 1588 pacientes com câncer de mama durante a intervenção terapêutica. Após cinco anos coletando dados destes pacientes, foi encontrada uma relação direta entre os níveis de fadiga e o sofrimento psicológico sentidos durante o tratamento na recidiva (reaparecimento do câncer) e na sobrevida pós-tratamento. Os pacientes que tiveram um maior sofrimento mental e elevada fadiga foram os que apresentaram, ao longo do tempo, uma maior taxa de recidivas e consequentemente, um menor tempo de vida (ver gráfico abaixo).

(Groenvold et col. 2007)
No primeiro gráfico acima, “Probabilidade da não ocorrência da recidiva nos sobreviventes (RFS)”, vemos que os pacientes que alcançaram um escore de fadiga mais baixo durante o tratamento (linha preta) possuem uma maior probabilidade da não ocorrência de uma recidiva ao longo dos anos (ex. 8 anos após o tratamento, o grupo fadiga baixa apresenta uma probabilidade de aproximadamente 50% à não recidiva, sendo que o grupo fadiga alta apresenta um valor de 40%). No gráfico de “Probabilidade de sobrevivência (OS)”, a tendência segue a mesma, o grupo que apresentou maior robustez emocional durante o tratamento (linha preta) tem uma probabilidade de sobrevivência maior com o passar dos anos quando comparado ao grupo de menor robustez emocional.

Os autores levantam dois possíveis modelos para justificar estes achados. O primeiro, chamado de “Modelo de mente-corpo”, aponta que pacientes que apresentam maior sofrimento psíquico têm um risco elevado de recidivas e morte devido ao trauma emocional causado pelo tratamento: há um caminho causal da mente para o corpo. Esta é a linha psico-neuro imunológica do pensamento que liga distúrbios psicológicos (por exemplo, depressão) ao sistema imunológico e, subsequentemente, a resistência ao câncer. A segunda interpretação, chamada de “Modelo de Robustez”, explica que a falta de sofrimento psíquico reflete robustez mental, bem como física. Em contraste com o modelo anterior, o caminho causal é o de robustez física e mental para a falta de sofrimento psicológico e da resistência ao câncer.

Este estudo apresenta um novo conceito sobre a necessidade da redução dos níveis de fadiga e a importância de exercícios durante o tratamento, uma vez que independente do modelo adotado, fica claro que a realização de um programa de atividade física parece ser uma medida essencial não só para a melhora nos parâmetros de funcionalidade e qualidade de vida, mas também para o aumento da expectativa de vida e redução de recidivas do sobrevivente. Em nossa primeira postagem sobre o assunto (título: Seria um contrassenso combater a fadiga crônica com exercício?), afirmamos que indivíduos bem condicionados possuem uma maior resistência, ou robustez, para sustentar condições metabólicas extremas, afirmação que vem de encontro aos modelos propostos pelo estudo.

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Msc. Rodrigo Ferraz
Prof.a Dr.a Patrícia L. Campos-Ferraz

Referências:

Groenvold, Mogens, et al. "Psychological distress and fatigue predicted recurrence and survival in primary breast cancer patients." Breast cancer research and treatment 105.2 (2007): 209-219.

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