07 outubro, 2017

Recomendações de exercício para pacientes com câncer


Evidências científicas apoiam a prática regular e sistematizada de exercício físico (EF) em pacientes com câncer (CA) e ratificam os seus benefícios; no entanto, ainda falta orientação específica para a tomada de decisão clínica em relação ao modo, frequência, duração e intensidade do EF. Além disso, a complexidade do estado de saúde, histórico clínico e a funcionalidade do paciente com CA dificultam tais recomendações. Como resultado, frequentemente a realização do EF é ignorada no planejamento da terapêutica anticâncer. 

A fim de esclarecer esta situação, uma recém-publicada revisão analisou outras 51 revisões (publicadas entre 2005 e 2017) sobre EF a CA com o objetivo de agregar informações relativas aos benefícios e recomendação do EF. Seus resultados sugerem que a duração e o tipo de EF podem afetar de forma diferente marcadores biológicos e fisiológicos, fatores psicossociais, deficiências funcionais, bem como proporcionar melhor tolerância ao tratamento do CA. 

Cabeçalho da revisão sistemática citada no texto.

Mais especificamente, temos:

Intensidade - maiores benefícios são encontrados quando o EF aeróbio é realizado em intensidade moderada a vigorosa. Estes efeitos são observados tanto durante como após o tratamento. Em geral, intensidades moderadas ou vigorosas resultam em melhorias na aptidão física, incluindo o consumo máximo de oxigênio, força muscular, resistência, funcionalidade, bem como na função imune. Estas intensidades são consideradas seguras se realizadas em ambientes supervisionados.

Estrutura – programas de EF supervisionados produzem maiores benefícios em comparação aos programas de EF não supervisionados. 

Período - A realização de EF é positiva quando inserida em qualquer período da intervenção terapêutica (pré-tratamento, o tratamento ativo e o pós-tratamento). As revisões de EF pré-hospitalares ou pré-cirúrgicos apontam melhorias na adesão ao treinamento, tolerância à terapêutica farmacológica, especificamente à quimioterapia, mitigação do declínio funcional após o início do tratamento, melhorias relacionadas à recuperação funcional pós-tratamento, reduções no período de permanência hospitalar e de complicações pós-operatórias.

Quando iniciado pré ou mesmo durante o tratamento, o EF também pode mitigar o risco de eventos adversos relacionados à contagem sanguínea, como neutropenia e trombocitopenia. 

O EF, mesmo quando inserido durante o tratamento, promove melhoras na função imune, na tolerância à quimioterapia e a seus efeitos colaterais (fadiga, depressão, ansiedade e distúrbios do sono), qualidade de vida e funcionalidade.

Ver tabela abaixo com recomendações específicas de EF

Tabela com recomendações específicas de EF para pacientes com CA. Clique na imagem para ampliá-la (Stout et al. 2017)

Esta revisão também detalha o impacto específico do EF em alguns desfechos que são influenciados pelo tratamento anticâncer, são eles:

Fadiga relacionada ao CA – o EF pode ser considerado a intervenção mais relevante na redução da fadiga em comparação às intervenções farmacêutica e a psicológica isoladamente.

Aptidão física – forte impacto positivo nas medidas de aptidão física, incluindo consumo máximo de oxigênio, tolerância ao exercício aeróbio, potência máxima, força, flexibilidade e várias medidas de aptidão cardiorrespiratória.

Composição corporal – benefício em aumento de massa magra e a fraca evidência para melhora na densidade mineral óssea.

Biomarcadores associados à progressão do CA – melhoras significativas nos perfis de biomarcadores, incluindo fator de crescimento de insulina (IGF) -I e IGF-II, células CD-4, função imune e diminuição de marcadores inflamatórios, tanto durante quanto após o tratamento do CA.

Atesta-se mais uma vez, com resultados desta “revisão das revisões”, que o EF, quando realizado em qualquer momento do tratamento, promove inúmeros benefícios sistêmicos ao paciente com CA, que as intensidades moderadas ou vigorosas potencializam estes resultados e são consideradas seguras. Seus autores concluem que é obrigação dos profissionais da área de saúde recomendar o EF, e que o paciente com CA requer atenção e um plano de EF específico, desenvolvido com base na aptidão inicial, níveis funcionais do indivíduo, efeitos colaterais relacionados ao tratamento e metas pessoais de saúde.

Referência citada: Stout, Nicole L., et al. "A systematic review of exercise systematic reviews in the cancer literature (2005-2017)." PM&R 9.9 (2017): S347-S384.

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Até a próxima...

Rodrigo Ferraz

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