“Sabemos que existe algo acontecendo, mas ainda não conseguimos enxergar exatamente o que é”.
Esta é a frase que tem tirado o sono de muitos pesquisadores ultimamente.
Esta é a frase que tem tirado o sono de muitos pesquisadores ultimamente.
Desde a década de 80, o exercício físico tem sido objeto de estudo na oncologia. Numerosos e consistentes resultados publicados corroboram a eficácia de sua prática na redução dos principais efeitos colaterais do tratamento em diversos tipos de câncer, principalmente na melhora da capacidade funcional e na qualidade de vida do paciente. Entretanto, os modelos experimentais ainda não foram capazes de esclarecer alguns fenômenos observados. Como explicar, por exemplo, o aumento da sobrevida e diminuição de recidivas em pacientes que se exercitam? Apenas a redução nas sequelas da terapêutica não é capaz de justificar a magnitude na melhora no prognóstico da doença. Sem falar na comprovada ação do exercício na diminuição da incidência de alguns tumores. Para encontrar tais respostas, o alvo precisava mudar. Era necessário mirar no microambiente tumoral.
Apresento os resultados de dois inovadores estudos, recém-lançados, semelhantes e complementares, que seguiram este novo raciocínio e revelaram alguns possíveis mecanismos envolvidos nas reduções do crescimento tumoral após realização de exercícios físicos.
Cabeçalho do primeiro artigo apresentado. (Betof, S. B., et al, 2015) |
O primeiro estudo fundamenta-se na redução da hipóxia intratumoral. A terapia medicamentosa anticâncer promove redução do aporte de oxigênio nas células tumorais, atribuída aos efeitos colaterais tais como anemia e disfunção cardíaca, por exemplo. Em resposta a esta situação, estas células se adaptam, tornando-se mais agressivas e menos suscetíveis a morte induzida pelo tratamento - para saber mais deste assunto, sugiro a leitura do artigo de Jie Zhou et al., “Tumor hypoxia and cancer progression”. Sendo assim, a premissa do estudo publicado em 2015 pelos pesquisadores da Duke University, E.U.A., (Betof. A. S., et al. 2015) foi a de que se melhoramos o fornecimento de sangue às células tumorais, a partir das adaptações já comprovadas decorrentes do exercício físico, atenua-se então a hipóxia intracelular; a célula tumoral responderá melhor ao tratamento, reduzindo o crescimento do tumor. De fato, após a realização de um protocolo de exercícios aeróbios em ratos inoculados com tumor recebendo quimioterapia (ciclofosfamida), houve redução significativa do crescimento tumoral quando comparado ao grupo que apenas recebeu o tratamento (ver gráfico abaixo). Em outra análise realizada pelo estudo, ratos com câncer sem quimioterapia que se exercitaram apresentaram aumento de até 40% na apoptose (auto destruição celular), melhora na capilarização e perfusão e redução da hipóxia intratumoral, quando comparados ao grupo controle sedentário.
Já no segundo estudo, recém-publicado, pesquisadores da Universidade de Copenhagen (Pedersen L, et al. 2016) visam esclarecer, pelo menos em parte, os eventos/mecanismos imunológicos associados a redução do crescimento tumoral e da incidência de câncer com a prática de exercícios. Sabe-se que a atividade física melhora a proteção imunológica anticâncer – sugiro a leitura do artigo de Fairey et al., “Physical exercise and immune system function in cancer survivors”. Assim, com a realização de um protocolo de exercícios aeróbicos, ratos com tumor apresentaram redução em até 60% do crescimento tumoral quando comparados ao grupo sedentário com tumor (ver gráfico e imagem abaixo). Os autores encontraram, para justificar este achado, no grupo exercitado, aumento da adrenalina e da interleucina-6 (IL-6) e que, agindo em conjunto, promoveram o aumento de células NK (Natural Killer) do sistema imunológico, responsáveis por identificar e destruir células tumorais – entrem no site cienciainforma.com.br para maiores informações deste estudo.
Imagem com a comparação dos volumes da massa tumoral entre os grupo controle (CON) e exercício (EX) ao final do experimento. (Retirado de Pedersen L, et al. 2016) |
Cabeçalho de segundo artigo citado (Pedersen L, et al. 2016) |
O que podemos concluir é que existe uma série de fenômenos bioquímicos e fisiológicos envolvidos no crescimento e surgimento tumoral, e que o exercício físico tem grande capacidade de influencia-los. Ainda há muita pesquisa pela frente, principalmente com o objetivo de confirmar estes resultados em humanos e no tipo e dose ideais de exercício. Ressalto que em modelo animal (ratos), a validade de um protocolo de força é altamente discutível, dado sua difícil aplicação e controle; é apenas por isto que os exercícios realizados foram os aeróbicos. Portanto, o treinamento de força, que possui eficácia comprovada e efeitos superiores em inúmeros desfechos ligados às melhoras de funcionalidade e qualidade de vida do paciente com câncer, não deve ser descartado à luz destes achados.
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Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
Artigos citados no texto:
Zhou, Jie, et al. "Tumor hypoxia and cancer progression." Cancer letters237.1 (2006): 10-21.
Betof, Allison S., et al. "Modulation of murine breast tumor vascularity, hypoxia, and chemotherapeutic response by exercise." Journal of the National Cancer Institute 107.5 (2015): djv040.
Fairey, Adrian S., et al. "Physical exercise and immune system function in cancer survivors." Cancer 94.2 (2002): 539-551.
Pedersen, Line, et al. "Voluntary Running Suppresses Tumor Growth through Epinephrine-and IL-6-Dependent NK Cell Mobilization and Redistribution." Cell Metabolism (2016).
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