A caquexia (do grego kakós [mau] e hexis [condição]) do câncer (CA) é uma síndrome multifatorial caracterizada por uma perda contínua de massa muscular, com ou sem redução de massa gorda. Sequelas fisiológicas incluem anorexia, fadiga, anemia, edema e alterações do sabor, levando a diminuição da função física, aumento da toxicidade relacionada ao tratamento e mau prognóstico. Sua prevalência varia de acordo com o tipo de CA, com as taxas mais altas para CA de pulmão e trato gastrointestinal superior, onde mais da metade dos pacientes são afetados. A variação no desenvolvimento da caquexia na CA depende também de características individuais, com polimorfismos genéticos influenciando marcas desta síndrome, como por exemplo, a inflamação. Lamentavelmente, a condição caquética ocorre na maioria dos pacientes com CA antes de sua morte - a caquexia sozinha é responsável por aproximadamente 25% de todas as mortes de pacientes oncológicos (ver imagem abaixo ilustrando a fisiopatologia e tratamentos específicos da caquexia do CA).
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Fisiopatologia da caquexia do câncer (Bruggeman et al. 2016). Clique na imagem para ampliá-la. |
O objetivo na gestão da caquexia do
CA é abrandar o declínio da função física a partir de melhorias na composição
corporal. É indicada, então, uma intervenção multimodal que tratará dos
distúrbios metabólicos e funcionais do paciente. Neste sentido, são
recomendadas as terapias nutricionais, farmacológicas e de exercício físico
(EF).
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Cabeçalho do artigo de base dos parágrafos acima. |
O EF pode atenuar os efeitos da caquexia através da modulação do metabolismo muscular, da sensibilidade à insulina e dos níveis de inflamação. Já em 2012, o pesquisador brasileiro Cláudio Bataglini, através de dados obtidos em populações com CA (ver nossa publicação passada - Aumento de força muscular no câncer), postulou a possível influência do EF num cenário de caquexia do CA sobre a síntese proteica no músculo, através de uma regulação positiva de citocinas anti-inflamatórias e aceleração de eventos de mioplasticidade (síntese proteica), criando assim um equilíbrio entre catabolismo e anabolismo, dado que o CA e alguns de seus tratamentos estimulam a expressão de citocinas pró-inflamatórias - muitas são anorexígenas e/ou proteolíticas. Segundo este modelo, com o balanço proteico estabilizado, o EF poderia ajudar os pacientes com ou em risco de caquexia do CA na manutenção de sua independência (ver gráfico do modelo postulado abaixo).
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Possíveis mecanismos anti caquexia promovidos pelo exercício físico (Battaglini et al. 2012). Clique na imagem para ampliá-la. |
Embora exista uma robusta base de evidências para intervenções nutricionais e de drogas no manejo da caquexia do CA, estudos de EF em CA avançado são poucos, impossibilitando maiores conclusões. Apesar da forte justificativa para o uso do EF, não há dados atuais para elucidar os efeitos específicos.
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Cabeçalho do artigo citado acima. |
Em recente revisão, realizada por uma equipe de brasileiros e ingleses, não foram encontradas provas suficientes para determinar a segurança e a eficácia do EF nesta população. Isso não significa que o EF não pode ser útil, apenas retrata que as pesquisas ainda não foram capazes de responder a esta pergunta. Futuros estudos precisam delimitar melhor a amostra segundo os critérios de diagnósticos internacionais para a classificação da caquexia do CA. Isto aumentaria a interpretação e generalização dos achados para o cenário da caquexia.
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Cabeçalho do artigo citado acima. |
Quer saber mais sobre a caquexia do câncer. Leia nossas publicações:
Síntese proteica na caquexia neoplásica. O que muda após uma refeição?
Suplementação de aminoácidos e caquexia do câncer.
Até a próxima...
Síntese proteica na caquexia neoplásica. O que muda após uma refeição?
Suplementação de aminoácidos e caquexia do câncer.
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
Referências:
- Bruggeman, Andrew R., et al. "Cancer cachexia: Beyond weight loss." Journal of Oncology Practice 12.11 (2016): 1163-1171.
- Battaglini, Claudio L., Anthony C. Hackney, and Matthew L. Goodwin. "Cancer cachexia: muscle physiology and exercise training." Cancers 4.4 (2012): 1247-1251.
- Grande, Antonio Jose, Valter Silva, and Matthew Maddocks. "Exercise for cancer cachexia in adults: Executive summary of a Cochrane Collaboration systematic review." Journal of cachexia, sarcopenia and muscle 6.3 (2015): 208-211.
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