02 setembro, 2015

Treinamento de força com oclusão parcial vascular: efeitos em patologias crônicas. PARTE 2


Apresento os resultados de dois estudos que avaliaram os efeitos do treinamento de força (TF) com oclusão vascular em patologias osteomusculares. Ambos realizados pelos pesquisadores do LACRE (Laboratório de Avaliação e Condiocionamento em Reumatologia do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina USP).

Em estudo publicado em 2014, 13 pacientes com polimiosite e dermatomiosite realizaram um protocolo de TF (20%1RM) com oclusão para os membros inferiores (leg press e cadeira extensora) durante 12 semanas. Estas patologias fazem parte de uma condição autoimune chamada miosite inflamatória idiopática, caracterizada pelo enfraquecimento e atrofia muscular, fadiga, mialgia e perda da função dos musculos das pernas, levando a condições limitantes e perda de qualidade de vida. Pacientes com estas patologias são incapazes de realizar um TF de alta intensidade (70-85% 1-RM), porém podem se beneficiar clinicamente com o aumento de força e hipertrofia dos membros inferiores.

Cabeçalho do artigo




Após o período de intervenção, os valores de força máxima e volume muscular das pernas aumentaram significantemente, assim como a funcionalidade, medida em dois testes (Timed-stand e Timed Up-and-Go). Estes resultados refletiram em melhora de qualidade de vida destes pacientes, uma vez que houve aumento significativo nos escores de todos os domínios do questionário de qualidade de vida (SF-36) pós treinamento (ver gráficos de resultados abaixo).
Resultado de hipertrofia pré e pós intervenção.

No outro estudo, realizado por mim e em processo de publicação, durante 12 semanas 48 pacientes com osteortrite (OA) de joelho, divididas em três grupos: TF (20%1RM) com e sem oclusão e TF alta (75%1RM) sem oclusão, realizaram um protocolo de fortalecimento para pernas (leg press e cad. extensora). A OA de joelho é uma doença caracterizada pela perda progressiva e irreversível da cartilagem. Pacientes com OA apresentam dor, rigidez, instabilidade e inchaço no joelho com consequente diminuição da atividade muscular e atrofia, levando-os a uma piora na execução das atividades cotidianas e redução na qualidade de vida. Mais uma vez, o fortalecimento da musculatura promove melhoras clínicas no quadro destes pacientes, porém cargas acima de 60%1RM podem agravar a dor.

Os resultados indicam que o aumento de força e hipertrofia nas pernas e melhora de funcionalidade foram significativos e similares nos grupos TF oclusão e TF alta. A dor, avaliada em questionário específico (WOMAC), reduziu de forma significativa apenas no grupo oclusão, e neste sentido, cabe mencionar que, 25% dos pacientes do grupo TF alta foram afastados ao longo do protocolo por agravamento das dores no joelho.

Estes estudos nos mostram que o método, quando aplicado em um ambiente controlado e por pessoal experiente, se apresenta como uma estratégia promissora de intervenção não farmacológica para determinadas patologias crônicas. Infelizmente, até o presente momento, nada foi publicado sobre este método em pacientes com câncer. Talvez porque não seja aplicável a esta população.

Até a próxima...
Rodrigo Ferraz

Para saber mais:
Mattar, Melina Andrade, et al. "Safety and possible effects of low-intensity resistance training associated with partial blood flow restriction in polymyositis and dermatomyositis." Arthritis research & therapy 16.5 (2014): 473.

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