21 agosto, 2015

Efeitos do exercício nos distúrbios de sono causados pelo tratamento


Outro efeito indesejado causado pelo tratamento anticâncer é a ocorrência e/ou agravamento de distúrbios no sono. Tendo impacto negativo na qualidade de vida, esta situação acomete aproximadamente metade dos pacientes em tratamento, podendo chegar a quase 70% em pacientes com quadros mais graves da doença. Dentre os distúrbios relatados, a apneia e a insônia são os mais prevalentes e podem ser agravados com o prolongamento no tratamento (ver gráfico abaixo de ocorrência destes distúrbios em pacientes com câncer)

Frequência da ocorrência de insônia em uma população de 234 pacientes com câncer (retirado do artigo de Davidson et al. 2002).

Uma das possíveis explicações para este fenômeno é uma provável alteração do ciclo circadiano. Este ciclo representa o período de 24 horas no qual se completam as atividades biológicas do corpo humano. Dentre as funções reguladas por ele, podemos citar os ajustes do apetite, do sistema imunológico e do sono. Em pacientes com câncer, evidências apontam para a alteração de várias destas funções, incluindo mudanças no ritmo endócrino (cortisol, melatonina e da secreção de prolactina), nos processos metabólicos (temperatura corporal) e no sistema imunológico (concentrações de leucócitos e neutrófilos circulantes). 

Em estudo publicado em 2008, pesquisadores da Universidade de Duke, Carolina do Norte (E.U.A.), realizaram um protocolo de caminhada em 20 mulheres com câncer de mama recebendo tratamento hormonal. Após as 12 semanas de intervenção, quando comparadas com o grupo controle (sedentário), os escores do questionário PSQI, específico para avaliar qualidade do sono, reduziram de forma significativa, indicando uma atenuação nos sintomas causados pelos distúrbios do sono. Os autores relacionam este achado ao aumento significativo dos níveis de serotonina, proteína responsável por controlar a liberação de diversos hormônios e regular o ciclo circadiano, evidenciado apenas no grupo treinado.


Cabeçalho do artigo.
Mais recentemente, em 2010, a pesquisadora Lisa K. Sprod investigou o efeito do exercício em citocinas relacionadas à modulação do sono (IL-6, TNF-α e sTNF-R) em pacientes em tratamento para câncer de próstata e mama. Depois de 4 semanas de realização de um protocolo diário de treinamento de força e caminhada, os 38 pacientes obtiveram valores significativos associados a melhora da qualidade do sono e das TNF-α e IL-6, quando comparados ao grupo sedentário. A autora associa de forma positiva estes achados, evidenciando o papel modulador do exercício nestas citocinas e a consequente redução nos distúrbios do sono. (ver tabela abaixo com os valores pré e pós intervenção dos parâmetros ligados ao exercício e sono)


Tabela com os valores dos parâmetros de atividade física e qualidade do sono pré e pós intervenção nos grupos (clique na tabela para visualizá-la melhor).

Cabeçalho do artigo.

Vale ressaltar que estes artigos relacionam variáveis biológicas com a qualidade do sono, porém, neste caso, fatores psicológicos como a ansiedade e depressão também são preponderantes. Olhar apenas para hormônios e citocinas pode não ser suficiente para a melhora do quadro. Contudo, a realização de exercício apresenta-se como uma ferramenta promissora na redução dos distúrbios do sono causados pelo tratamento.

Até a próxima...
MSc Rodrigo Ferraz

Para saber mais
Davidson, Judith R., et al. "Sleep disturbance in cancer patients." Social science & medicine 54.9 (2002): 1309-1321.
Payne, Judith K., et al. "Effect of exercise on biomarkers, fatigue, sleep disturbances, and depressive symptoms in older women with breast cancer receiving hormonal therapy." Oncology nursing forum. Vol. 35. No. 4. 2008.
Sprod, Lisa K., et al. "Exercise, sleep quality, and mediators of sleep in breast and prostate cancer patients receiving radiation therapy." Community oncology 7.10 (2010): 463.

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