30 julho, 2015

Efeitos do exercício na cardiopatia induzida pelo tratamento.


No tratamento contra o câncer, a combinação de quimioterapia, radioterapia, cirurgia e, mais recentemente, terapia baseada em anticorpos é empregada para prolongar a vida e promover a cura. No entanto, muitos dos agentes quimioterápicos e dos anticorpos utilizados, quer de forma isolada ou combinada, assim como a radioterapia, podem afetar o sistema cardiovascular, atenuando o sucesso clínico do tratamento, com um forte impacto na sobrevida e qualidade de vida do paciente.

Manifestações cardiovasculares comuns destas terapias incluem insuficiência cardíaca, isquemia, hipotensão, hipertensão arterial, edema, prolongamento do intervalo QT, bradicardia, e tromboembolismo. Podendo ocorrer de forma aguda, durante o tratamento, ou crônica, após a intervenção. A manifestação mais típica de cardiotoxicidade crônica é a disfunção ventricular sistólica ou diastólica que pode levar a insuficiência cardíaca congestiva até a morte cardiovascular.

A irradiação do tórax pode causar danos ao pericárdio, miocárdio, valvas e artérias coronárias. A incidência de complicações cardiovasculares induzidas por radioterapia é maior com altas doses de irradiação e com a associação de quimioterapia com outras medicações. Das drogas prescritas no tratamento antineoplásico, as que possuem o maior potencial cardiotóxico são as do grupos das Antraciclinas, uma vez que, o seu uso promove a formação de radicais livres que danificam permanentemente o miocárdio. A utilização de novos agentes terapêuticos, como o anticorpo monoclonal Trastuzumab, induz uma disfunção transitória e reversível dos miócitos sem que haja relação com a dose utilizada. (ver tabelas abaixo de cardiotoxidade dos agentes) 

Cardiotoxidade dos agentes quimioterápicos (clique na imagem para visualizar melhor).

Cardiotoxidade dos anticorpos utilizados na terapia anti-câncer (clique na imagem para visualizar melhor).
A prescrição de exercícios aeróbicos no tratamento de cardiopatias em uma população sem câncer já é uma realidade e está associada a melhorias significativas na fração de ejeção do ventrículo esquerdo, consequência da hipertrofia do miocárdio. O interesse desta função cardioprotetora do exercício no contexto do tratamento anti-câncer tem aumentado. Em estudo conduzido pelo pesquisador Kerry S. Courneya em 2003, após 15 semanas de treinamento aeróbico, três sessões semanais de 35 min de bicicleta ergométrica, o grupo de 25 pacientes sobreviventes de câncer de mama aumentou o pico de consumo de oxigênio (marcador de função cardiopulmonar) em 0,24  L/min, sendo que o grupo sedentário diminuiu em 0,05 L/min.

Tabela com os valores das variáveis da função cardiovascular pré e pós intervenção e comparação entre os grupos treinado e sedentário (clique na imagem para visualizar melhor)


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Mais recentemente, em artigo publicado pela Dra. Jessica M. Scott em 2013, os possíveis mecanismos envolvidos na função cardioprotetora da atividade física em pacientes em terapia de anticorpos foram apresentados. A autora conclui que o exercício aeróbico age de forma positiva em diversas vias de sinalização cardíaca implicadas na cardiotoxidade induzida pelo Trastuzumab. Podemos concluir que, a realização de exercícios aeróbicos agem de forma a minimizar ou até reverter os efeitos cardiotóxicos das terapias anti-câncer.

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Até a próxima...
MSc. Rodrigo Ferraz

Referências:
Kalil Filho, R., et al. "I Diretriz Brasileira de cardio-oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia." Arquivos Brasileiros de Cardiologia 96.2 (2011): 01-52.
Courneya, Kerry S., et al. "Randomized controlled trial of exercise training in postmenopausal breast cancer survivors: cardiopulmonary and quality of life outcomes." Journal of clinical oncology 21.9 (2003): 1660-1668.
Scott, Jessica M., et al. "The potential role of aerobic exercise to modulate cardiotoxicity of molecularly targeted cancer therapeutics." The oncologist18.2 (2013): 221-231.

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