10 julho, 2015

Consumo de carboidrato e incidência de câncer: fato ou mito?


Há alguns anos, foram publicados estudos (metanálises - revisões sistemáticas de artigos científicos) sugerindo que a incidência de tumores colorretais aumenta de forma associada a altas concentrações de IGF-1, um hormônio similar à insulina.  Após a ingestão de carboidratos, aumentam os níveis da insulina e de IGF-1, elevando o aporte energético disponível para as células com potencial tumoral. Esse dado faz parecer plausível a ideia de que altas concentrações de insulina e de açúcar no sangue também podem elevar a incidência desse tipo de câncer.

Um grande estudo de caso-controle retrospectivo publicado agora em 2015 verificou a associação entre consumo de açúcares e de carboidratos altamente digeríveis e a incidência de tumores colorretais  no Tennessee, E.U.A. Foram analisados os hábitos alimentares de 2000 portadores deste tipo de câncer e comparados com os hábitos de 3000 indivíduos sadios. Foi calculada a razão de chance de vários tipos de alimentos e sua possível associação com o aparecimento de tumores. A conclusão é que não houve relação entre o consumo de carboidratos simples (farinha, amido e açúcares em geral) e a etiologia nos estados iniciais dessa doença.

Outro estudo de 2005, um coorte prospectivo de grande porte com 23 mil mulheres dinamarquesas pós-menopausadas, analisou o consumo de vários tipos de açúcares (glicose, frutose, sacarose, amido, lactose) e carboidratos totais na dieta e também não conseguiu verificar associação entre incidência de câncer de mama e o consumo desses nutrientes, embora tenha encontrado uma relação inversa com o índice glicêmico dos alimentos e a incidência de tumores mamários estrógeno positivos e  uma relação direta no caso dos tumores estrógenos negativos, que os autores não souberam explicar e atribuíram como efeito do acaso.

Apenas alguns estudos do tipo caso-controle estabeleceram uma relação positiva entre consumo de carboidrato e câncer.  Vale lembrar que esse tipo de análise está sujeita a algumas falhas metodológicas, como limitações do tipo viés de seleção de casos, erros de medidas de carboidratos na dieta, a depender do questionário utilizado e poder estatístico insuficiente. Finalmente, uma metanálise publicada em 2012 com 15 mil casos também não conseguiu estabelecer uma associação entre consumo de carboidratos e incidência do câncer colorretal.

Em conjunto, esses dados nos mostram que, apesar da plausibilidade biológica aventada por estudos in vitro e com animais, mostrando que o tumor é um ávido consumidor de glicose e por alguns poucos estudos de caso-controle, os grandes estudos epidemiológicos (coorte) não conseguem mostrar essa relação entre açúcar da dieta e incidência de câncer. Assim, a conduta de reduzir ou mesmo retirar os carboidratos da dieta para tentar prevenir o aparecimento de câncer, devido à hiperglicemia, não encontra respaldo na Ciência.

Para saber mais:
Coleman, Helen G., et al. "Aspects of dietary carbohydrate intake are not related to risk of colorectal polyps in the Tennessee Colorectal Polyp Study."Cancer Causes & Control (2015): 1-6.

Profa. Dra. Patrícia L. Campos-Ferraz

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