15 junho, 2015

SUPERAÇÃO - Palavra chave para quem está se tratando de um câncer


O câncer é uma doença cujos tratamentos são específicos. Estes exigem força, disciplina, resiliência, tanto do portador como dos familiares.  Idas a hospitais, consultas, exames e mais exames, lidar com os efeitos colaterais de cada tratamento, enfim, ver a vida de outro ângulo. Tudo isso exige equilíbrio emocional e confiança.

Vivemos em um tempo onde as opções de tratamento são mais vastas, as chances de cura também.  A qualidade de vida pode ser melhorada durante esse período, assunto sobre o qual temos escrito regularmente. Então, mostraremos um interessante estudo de caso sobre uma paciente que decidiu enfrentar sua batalha de uma forma muito peculiar: treinando para completar uma maratona (42Km) pela primeira vez!

Uma alemã de 39 anos descobriu um linfoma de Hodgkin já em estadiamento IIb e foi imediatamente indicada para quimioterapia. Ela enfrentava um momento pessoal difícil, devido à recente perda de um familiar pela mesma doença, além de um divórcio e do desemprego.  Pouco tempo depois, já com o tratamento em curso, ela solicitou aos seus médicos que dessem alguma atividade de apoio, já que não estava se sentindo bem em ficar tanto tempo em casa. Seus exames de sangue estavam dentro da normalidade nesse momento, assim como o eletro/ecocardiograma.  Portanto, os médicos sugeriram que ela procurasse um fisiologista do exercício e que fizesse um teste de tolerância ao esforço físico. Utilizando o protocolo de Bruce, o teste ergoespirométrico com limiar de lactato foi realizado, e foi detectado que ela tinha um VO2max de 39ml/kg peso/min, considerado bom para pacientes com sua doença e grau de estadiamento.


Cabeçalho original do artigo.

Assim, ela foi liberada para começar um programa extensivo de atividade física aeróbica quatro vezes por semana.  Entre o primeiro e o segundo ciclo de quimio, ela mostrou interesse em completar uma maratona, já que possuía experiência prévia com corrida. Assim, ela começou a treinar mais seriamente e logo foi capaz de correr 10 km em 1h22min.  Ela conseguia treinar normalmente, exceto no dia da infusão e no dia subsequente.

Dessa forma, ela cumpriu seu treinamento e completou alguns meses depois, sua primeira maratona, em Frankfurt, com o tempo de 4h37min. O único ajuste no tratamento a ser feito foi postergar o terceiro ciclo de quimio por 10 dias, para que ela pudesse correr a prova. Tudo foi feito em comum acordo com seu oncologista e o fisiologista do exercício, já que os medicamentos que infundia exigiam que ela monitorasse sua capacidade cardíaca.  

É claro que isso não deve ser feito sem consentimento do seu médico nem sem acompanhamento especializado. Mas esse estudo de caso mostra que, para um paciente em quimio que tenha condição física e força de vontade, os limites podem estar muito além daqueles que imaginamos. Certamente, completar uma maratona num tempo excelente como esse deve ter feito muito bem a auto-estima dessa paciente que, ao superar seus limites de uma forma emblemática como essa, também deve ter enfrentado toda a sua situação com muito mais confiança!

Profa. Dra.  Patrícia Campos-Ferraz

Para saber mais
Bernhorster M et al. Marathon run under chemotherapy: is it possible? Onkologie, 2011 (34): 259-261.


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