19 maio, 2015

A alimentação seria capaz de alterar nossa genética e causar câncer?


Gostaria de comentar aqui um texto que fala sobre a interação entre nutrição e o câncer. Os temas das postagens passadas ficaram mais focados na questão dos benefícios do exercício físico aos pacientes em tratamento. Dessa vez, eu, como nutricionista, vou literalmente “puxar a sardinha para o meu lado”.

Vamos lá! Um texto muito interessante da renomada pesquisadora Karen Bishop  da Universidade de Auckland, Austrália, aponta que a nutrição pode ter papel importante sobre algumas mudanças genéticas que as nossas células podem sofrer. Os nossos genes (informação hereditária que está codificada em nosso DNA) apresentam uma dinâmica própria de funcionamento, alguns podem ser ativados ou desativados por fatores ambientais. Esse é o nosso epigenoma.

Cabeçalho original do artigo.
O epigenoma é sensível às mudanças que podem ser causadas pela nossa alimentação. Por exemplo, excesso de consumo de calorias poderia, segundo essa autora, aumentar a proliferação celular descontrolada, o que é uma característica do câncer. Dessa maneira, a redução do consumo de calorias poderia então exercer algum papel na prevenção do câncer.  Alguns alimentos ou nutrientes parecem contribuir com alterações em nosso epigenoma e causar o câncer. Entre eles, a autora aponta os seguintes:

Folato (vitamina B6), essencial para síntese de DNA e proteínas, é obtido da dieta, e a redução de seu consumo resulta na modificação química de alguns genes promotores de câncer (oncogenes), podendo ativa-los.  O consumo excessivo de álcool diminui a disponibilidade de folato no organismo, este cenário em pessoas predispostas a determinados tipos de câncer pode levar a uma ativação desses oncogenes.

Chá verde
Os polifenóis agem como antioxidantes, ou seja, neutralizando a formação de espécies reativas de oxigênio que podem causar danos celulares. Esses compostos estão presentes no chá verde, café, vinho tinto,  soja, legumes, frutas, etc. O chá verde contém polifenóis capazes de inibir a invasão tumoral (ocupação do tecido vizinho) e angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos no tumor) num tipo de câncer de pele em camundongo.  O resveratrol tem a propriedade de desativar alguns oncogenes sem, no entanto, exercer esse efeito em genes convencionais.

Grão de café
Alguns grupos populacionais com alto consumo de café apresentaram menor risco de recorrência de câncer de próstata, isto porque o ácido caféico reduz a modificação química de alguns oncogenes. A genisteína da soja se liga ao receptor de estrógeno das células e é exemplo de outro polifenol que pode inibir o crescimento de tumor estrógeno-positivo, ou seja, daquele tumor hormônio-dependente. A genisteína também parece capaz de inibir oncogenes em linhagens de células de câncer de próstata. Outros nutrientes que parecem exercer efeito inibidor oncogênico são o selênio (presente na castanha do Pará) e o licopeno (presente no tomate) em quantidades moderadas.

Castanha do Pará
A autora conclui que algumas dietas estão mais associadas a alguns tipos de câncer, tais como a dieta ocidental, pobre em fibras, frutas, legumes, verduras e ricas em gordura saturada e câncer de cólon. Essas associações, segundo ela, são um ponto de partida para maiores estudos sobre hábitos alimentares e modificações no epigenoma e suas relações com alguns tipos de câncer.

Profa. Dra. Patrícia Lopes de Campos Ferraz 

Para saber mais:
Bishop, Karen S., and Lynnette R. Ferguson. "The Interaction between Epigenetics, Nutrition and the Development of Cancer." Nutrients 7.2 (2015): 922-947.

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